1. Não é novidade para ninguém (ou é?!), que este ano teremos eleições majoritárias no Brasil. De quatro em quatro anos, dividindo holofotes com a Copa do Mundo de futebol, as eleições que mexem com todo o país de uma vez só, ocorrem meses depois de uma seleção de futebol ter levantado o caneco oferecido pela FIFA, ou seja: o juiz apita o fim do jogo lá, e outros muitos juízes dão às regras do jogo eleitoral aqui!

De maneira inédita para muitos eleitores, o pleito deste ano terá aproximadamente 13 candidatos concorrendo entre si, para ver quem sobe à rampa do Palácio do Planalto no dia primeiro de janeiro próximo futuro, e, seja investido (a) pela faixa presidencial da República Federativa do Brasil. Este texto versará sobre política, mas a nossa política verde, amarelo e azul anil.

Sem mais delongas, vamos aos fatos. O fenômeno nas redes sociais, que tem entre 12 e 17% das intenções de votos, e lidera a corrida sem o Lula, é dono de uma retórica ímpar; enfático e sem muitas voltas, Jair Messias Bolsonaro fala o que lhe vem à telha. Como não bastassem frases do tipo: “o afrodescendente mais leve lá, pesava no mínimo 7 arrobas; ela não merece ser estuprada porque é muito ruim, é muito feia…; o filho começa a ficar assim gayzinho, leva um coro ele muda o comportamento dele; foram quatro homens e na quinta eu dei uma fraquejada, veio uma mulher…”, dentre outras, o candidato se mostra completamente despreparado para assumir um cargo de tamanha importância e responsabilidade.

Em sabatina em um famoso programa de TV, o candidato soltou mais pérolas peculiares de pessoas com os pensamentos semelhantes ao dele. Disse que uma das causas da mortalidade infantil era a má higiene bocal das mães (o candidato nem ao menos se atentou para a entrevistadoras, que mencionou o problema da falta de saneamento básico como uma das causas), e que sobre escravidão, os portugueses nem colocaram os pés na África, que era coisa de negros com negros… Não obstante a cabeça de chapa proferir desserviços em forma de frases, o vice da mesma, em participação em um evento no Sul do país, afirmou que muito dos males do Brasil, advém da indolência dos índios, e da malandragem dos negros. É, estamos bem; e tem quem diga que a chapa não é assim tão tóxica…

No campo dos grandes acordos, Geraldo Alckmin (o santo da Odebrecht), recebeu com largo sorriso, o apoio do chamado Centrão, que é composto pelos partidos mais citados em falcatruas na política nacional (sem o PT, que também é citado nas mesmas falcatruas e não faz parte do Centrão). Alckmin detém o maior latifúndio midiático no tocante a tempo de televisão e rádio, na propaganda eleitoral. O tempo que ele dispõe é superior a de todos os outros candidatos juntos.

Na atualidade, muitos acreditam que a internet leva informação a todos os habitantes de um país; isso pode até ser verossímil em países que possuem uma infraestrutura de telecomunicação boa, e, haja investimento público ou privado nessa área. Isso não ocorre no Brasil! A nossa internet (que não é lá grandes coisas), tem alcance majoritário nas áreas litorâneas e nas grandes capitais. O interior, até mesmo de regiões mais desenvolvidas do país, ainda não dispõe de uma rede que leve internet. Isso não é muito difícil de acreditar, haja vista que até hoje, fim da segunda década do Século 21, pessoas não possuem energia elétrica em suas casas, quanto mais internet.

Isso posto, é preciso fazer uma análise. A maior parte dos eleitores de Jair Bolsonaro são, jovens, militares e seus familiares, e uma parcela da sociedade que acredita que ele resolverá os problemas do país. Em pesquisa divulgada pelo TSE, esta eleição que se aproxima terá a participação de jovens, menor do que a ocorrida em 2014. Juntando esse fato, com a falta de internet cobrindo todo o território nacional, o tempo de televisão e rádio do Alckmin, eu chego à conclusão de que esse, tende a subir nas pesquisas, tão logo comece a propaganda eleitoral obrigatória.

Como não poderia deixar de citar (antes de passar para o próximo candidato), a justiça de São Paulo “jogou” o processo de corrupção contra o Alckmin, para a seara da justiça eleitoral, e nós sabemos como isso vai terminar, porém, as acusações de desvios milionários do Rodo Anel, podem atrapalhar o caminho do tucano ao Planalto…

Nesta corrida para ver quem sobe à rampa, ainda tem a Marina Silva (que dispensa maiores apresentações); Álvaro Dias (que acredita que PODE(mos) chegar lá); Henrique Meirelles (que tenta se desgarrar do presidente golpista); João Amoedo (…); Cabo Daciolo (fruto de uma estratégia não pensada do PSOL); João Gulart Filho; Vera Lúcia; Eymael (o democrata cristão). Guilherme Boulos também sabe que não subirá à rampa, mas a sua candidatura serve para marca uma posição (como de regra sempre foi às candidaturas à presidência do PSOL), e inaugurar caras novas na velha política nacional. Manuela Dávila vem na mesma toada que o Boulos, ou melhor, vinha né?! O PT arquitetou mais uma das suas estratégias políticas, e é sobre ela que vou falar agora.

O Partido dos Trabalhadores acostumou-se com o poder, e isso não é difícil de perceber. Não tratarei aqui como foram os governos petistas no comando do país, não! Ficarei com a estratégia utilizada por ele, em vistas às eleições de Outubro. Voltando, o PT acostumou-se com o poder, e nada mais é perseguido por esse partido, do que o poder.

Sabendo que um conservador falastrão está liderando as pesquisas de opinião, o maior partido de esquerda do país, ao invés de unir à esquerda que ele próprio ajudou a se fragmentar, resolveu apostar todas as fichas em um plano arriscado, que pode dar certo, mas também, pode entregar o Brasil nas mãos daqueles que estão ávidos por voltar, há 20 anos.

Naturalmente, nós sabemos que o Lula não poderá levar a sua candidatura a frente, porque o mesmo está impedido pela Lei que ele próprio sancionou. O PT sabe disso; a mídia sabe disso; os adversários políticos sabem disso; os eleitores do Lula sabem disso. Ora bolas, sabendo o que não está oculto a ninguém, o partido dos trabalhadores insiste em manter, Lula como candidato cabeça de chapa para presidente do Brasil.

Houve rumores de que a esquerda se uniria em uma frente para impedir que candidatos reacionários pudessem ter êxito nas eleições deste ano. Alguns quadros da esquerda até começaram a fazer um movimento para isso, mas o PT não deu chance e nem quis se articular. Isso por que, o PT não queria ser vice de ninguém, mas sim ter vice. O PDT sinalizou para a necessidade de uma coalizão entre à esquerda; naturalmente, o Ciro Gomes seria a cabeça de chapa (algo até razoável pelo o que se mostra de cenário). Cogitou-se no nome do Fernando Haddad para vice do Ciro, mas, nada feito.

Agora temos a seguinte composição: Ciro foi buscar uma ruralista para vice (e que me desculpem os petistas que estão criticando, mas o PT andou de mãos dadas com o partido que a senadora construía até pouco tempo atrás, e a teve como ministra no governo Dilma); Manuela desistiu da campanha como cabeça de chapa, para virar vice do vice de Lula. Regionalmente falando, o PT costurou estratégias com o PSB, visando uma neutralidade (já que não houve uma aliança nacional de ambos os partidos). Essa estratégia resultou em alguns traumas em precandidaturas já em curso. Em Minas, o PSB desistiu da corrida ao Palácio da Liberdade com Márcio Lacerda, em vistas ao favorecimento a Fernando Pimentel (PT); em Pernambuco, o PT cancelou a precandidatura de Marília Arraes, afim de favorecer a reeleição de Paulo Câmara (PSB).

Essa estratégia do PT com PSB em âmbito regional tem conseqüências no cenário nacional, pois, uma das condições para se firmar o acordo, era não apoiar Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), e de jeito nenhum, Jair Bolsonaro (PSL). Uma vez fechado o acordo, o PT dá vazão a sua estratégia maior, que é levar a candidatura de Lula até o limite, e forçar uma transferência dos votos para Haddad. Pode ser que isso dê muito certo, e mostre para todos que o PT continua vivo e muito bem no tabuleiro da política nacional (a despeito de tudo o que já se falou dele); em contrapartida, pode acontecer de não ter nenhum candidato da esquerda no segundo turno, e a conseqüência disso não será a “Ponte para o futuro” do governo golpista que nos levou para 1998, mas (e isso me faz tremer), um verdadeiro retrocesso que nos levará de volta aos anos de 1960, mas precisamente em 64, ou seria 68?! Isso nós saberemos daqui a menos de um mês; quem viver, verá!

Comentários

Comentários