RIO – “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”

Correndo o risco de parecer clichê, esta matéria se inicia com uma frase de Che Guevara, porque talvez nenhuma poderia ilustrar tão bem o novo fôlego que toma o movimento estudantil. Semana após semana são noticiadas reitorias sendo ocupadas e vitórias sendo alcançadas através da luta insistente de universitários. A lista das universidades que tiveram suas reitorias ocupadas recentemente cresce a cada dia: UFF, UFRJ, USP, UnB, UFPel, UFRGS, UFSM, UEM e a lista continua a crescer…

A urgência por condições mais justas não são mero impulso jovem pela revolução, ela vem acompanhada da dose certa de esclarecimento e lucidez. As reivindicações que assistimos, dia após dia, trazem pautas conscientes e têm acontecido de forma organizada com os estudantes e cada vez mais agindo articuladamente, apoiando uns aos outros dentro de sua própria universidade e também em relação ao movimento que ocorre nas outras universidades.

A revista biblioo esteve presente na ocupação da reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que aconteceu durante toda a manhã e tarde do dia 22 de setembro. Reunidos no segundo andar do prédio, estavam alunos de pelo menos cinco instituições do estado, professores e membros do Conselho Universitário.

A questão do acesso e da permanência

As reivindicações dos estudantes da UFRJ, assim como as de outras instituições, trazem a identidade da universidade, seus problemas e as propostas de soluções. Ao se comparar o que os estudantes exigem dentro de suas respectivas instituições, não é preciso muito para identificar grandes semelhanças. As reivindicações são, muitas vezes, o reflexo de uma política de ampliação do acesso às universidades sem, no entanto, ter sido acompanhada com a mesma força por medidas para a permanência dos egressos, como nos conta Igor Mayworm, estudante de História da Universidade Gama Filho (UGF) e presidente da União Estadual dos Estudantes: “São problemas distintos. Um é o problema do acesso, porque grande parte da nossa juventude não tem a perspectiva de entrar para a faculdade. Com medidas como o REUNI e o PROUNI, a gente tem dado passos para resolver esse problema. E por isso, o problema da permanência se torna cada vez mais evidente, porque o custo de se manter na faculdade é muito caro”.

Assim, as reivindicações mais específicas se voltam para a melhoria da condição que se encontram as universidades como a regularização do pagamento das bolsas auxilio, a melhoria dos serviços e dos acervos nas bibliotecas e uma diversidade de melhorias na questão da infraestrutura. “O movimento estudantil […] parte de um problema que os estudantes já identificam desde o processo do REUNI. Hoje se você pegar todas as universidades que estão ocupadas, elas estão ocupadas por um reflexo de uma política mais geral com problemas que são reflexos de uma expansão sem verba” conta Lucas Braga, estudante de Direito e diretor do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ainda que semelhantes, cada universidade traz suas reivindicações próprias, mas todas se unem num panorama maior, como afirma

Leandro Santos, estudante de Direito e ex-integrante do DCE da UFRJ: “Todas as universidades tem suas reivindicações específicas, mas todas elas  se juntam com uma reivindicação mais geral que é na ‘campanha nacional pelos 10% do PIB para educação já’”. Essa já é uma luta antiga que se alonga desde o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ainda não foram colhidos os frutos esperados. A questão toma força de novo agora que os estudantes se deparam com a perspectiva de até 2014, todo aumento conseguido ser de apenas 7%.

Muitas ocupações já obtiveram vitórias. Estudantes foram ouvidos, exigências foram negociadas e pautas foram aprovadas. Tudo isso consta em cartas assinadas pelos reitores se comprometendo a cumprir o que foi acordado, o que é apenas uma vitória inicial, um dos primeiros passos. O movimento estudantil que tomou fôlego e força nos últimos meses não pode deixar o assunto passar. Claro que as mudanças pedidas não acontecem do dia para a noite, mas cabe aos estudantes cobrar que elas saiam do papel para a prática, mesmo que a longo prazo.

E para não perder o ritmo dos clichês: a luta continua…

Clique aqui para ler integralmente a entrevista de Igor Mayworm que compôs essa reportagem.

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