Se promover a disseminação da cultura leitora é um desafio antigo no Brasil, imagine na escola onde muitas vezes os estudantes acabam por adotar uma postura de resistência em relação aos livros exatamente porque muitas vezes a leitura se apresenta como algo imposto. Além disso, a própria possiblidade de se ter em mãos de forma facilitada as obras que deseja é algo ainda bastante distante, tendo em vista que a maioria das escolas não tem bibliotecas.

Pensando nisso, um grupo de profissionais resolveu criar uma biblioteca virtual voltada aos estudantes de ensino básico. Assim, nasceu em 2014 a Árvore de Livros, cujo objetivo é ajudar as escolas no processo de formação de leitores. Hoje são mais de 250 editoras na plataforma, o que somados ultrapassam 10 mil títulos. Além de livros, a Árvore conta com vários jornais e revistas somando mais de 5 mil periódicos diferentes.

Com o projeto já consolidado, os executivos da empresa já pensam em ampliar o acervo. “Queremos ter mais livros, mais livros em outras línguas, mais revistas e jornais também. Além disso, queremos melhorar ainda mais a parte da plataforma de interação entre os professores, possibilitando a interação entre eles, para troca de boas experiências e atividades de leitura”, revela João Leal, co-fundador e diretor da plataforma.

Nessa entrevista concedida à Biblioo, Leal fala sobre o processo de construção do projeto, sobre, as ações desenvolvidas pela plataforma, além de destacar o nível de aceitação por parte do seu público em relação à leitura digital. “Os alunos já estão superacostumados a ler de maneira digital”, destaca.

Leitor digital na plataforma. “É assim que seu aluno vai ler na Árvore. Seja no tablet, no celular ou no computador.”

Como surgiu a Árvore de Livros?

A Árvore surgiu em 2014, com o objetivo de ajudar as escolas no processo de formação de leitores. Dado os baixos índices de leitura no Brasil, comparado com outros lugares do mundo, as notas baixas nas provas padronizadas no Brasil (ENEM, Prova Brasil e etc), resolvemos criar a Árvore para transformar a educação do Brasil a partir da melhoria da leitura dos alunos.

Criamos então uma plataforma que tem sido chamada pelos alunos de Netflix dos livros da escola. De um lado temos milhares de livros de diversas editoras diferentes, onde os alunos podem acessar para ler todos os conteúdos a partir de celular, tablet ou computador. De casa ou da escola, para ler o livro que o professor pediu ou qualquer outro. Não tem limite, nem fila de espera, todos podem ler o que quiser. Além disso, disponibilizamos para os professores, uma série de relatórios de progresso e comportamento leitor dos alunos para que eles saibam o que está acontecendo. Auxiliamos as escolas também com capacitação, treinamento e projetos de leitura. Tudo isso para atingirmos o nosso objetivo final, que é no fim do dia, fazer com que os alunos leiam cada vez mais e melhor.

João Leal, CEO da Árvore. Foto: blog.arvoredelivros.com.br.

Quantas editoras e quantos títulos compõe hoje o acervo digital da Árvore de Livros? Quais os títulos mais lidos na plataforma?

Hoje são mais de 250 editoras na plataforma diferentes, o que somados ultrapassam 10 mil títulos. Além de livros, temos vários jornais e revistas na Árvore também do Brasil e do mundo, já são mais de 5 mil periódicos diferentes.

No ano passado o livro mais lido foi O Pequeno Príncipe. Temos ainda na lista dos livros mais lidos, O Menino Maluquinho e vários clássicos em quadrinhos.

O foco de atuação da Árvore de Livros é o mercado escolar privado. Quais são as principais dificuldades para o projeto atender as escolas da rede pública de ensino?

A principal dificuldade é o acesso mesmo as secretarias de educação para que a gente possa começar o trabalho. O processo na maioria das vezes é demorado e a mudança de gestão muitas vezes atrapalha o andamento. Mesmo assim, hoje estamos presentes no município do Rio de Janeiro, Guapimirim(RJ), São José dos Campos (SP), Taboão da Serra (SP) e no próprio Estado de SP com escolas da rede púbica. Temos tido um resultado e engajamento bem interessantes.

A plataforma dá apoio para que os professores acompanhem o processo de leitura dos alunos? Como funciona?

Sim, contamos com uma equipe de assessoria pedagógica que faz todo o treinamento e capacitação da plataforma para que todos os professores se sintam muito confortáveis com a utilização da Árvore, ainda que ela seja super simples, isso é bem importante. Essa equipe de assessores faz o acompanhamento ao longo do ano inteiro com as escolas. Buscamos tornar os projetos de leitura que a escola já tem usando a leitura digital e as funcionalidades que temos na Árvore. Além disso, disponibilizamos uma série de relatórios de leitura em tempo real para que os professores e gestores possam acompanhar tudo que vem acontecendo com a leitura da escola. Pela primeira vez várias perguntas passam a ter resposta de forma instantânea, como por exemplo, quanto tempo meus alunos leem por dia? quantos livros foram lidos esse mês? Quantos alunos leram de fato o livro indicado pelo professor? Qual a turma mais leitora da minha escola? Quem foi o aluno que mais leu? E o que menos leu? Eles leem mesmo ou só passam páginas? Isso tudo de forma bem fácil e acessível para os professores e gestores da escola.

A tecnologia é uma importante aliada da educação inclusiva. Como a Árvore de Livros têm trabalhado essa questão?

Sem dúvida. Sendo uma plataforma digital, já temos algumas funcionalidade que ajudam pessoas que tem baixa visão por exemplo, permitindo que o usuário altere a fonte como quiser. Estamos evoluindo a plataforma para permitir em breve leitura por voz ou libras também para os usuários.

Além da biblioteca digital, a Árvore de Livros realiza outras ações de promoção à leitura? Conte um pouco sobre essas iniciativas.

Além de facilitar o acesso a livros de qualidade usando a plataforma, pensamos o tempo todo em como atrair a atenção dos alunos para leitura. Neste sentido, pensamos em muitos projetos de leitura que possam encantar os alunos e professores ao longo de todo ano. Estes projetos sempre envolvem leitura na plataforma, atividades em sala, acompanhamento pelos relatórios e premiação para as atividades principais. Fazemos projetos que envolvem a participação de centenas de escolas, o que gera um senso de colaboração e participação muito interessante, o projeto de leitura não passa a ser apenas da escola, todos fazem ao mesmo tempo as mesmas atividades, e com isso, a troca é incrível. Esse ano tivemos a Maratona do Livro Infantil, que foi um projeto que tinha o Ziraldo como padrinho. Basicamente os alunos participaram de uma maratona de leitura para receber o Ziraldo em suas escolas. Foram mais de 150 escolas participantes com mais de 9 livros lidos por aluno em apenas 1 mês. Além deste, tivemos o Festival de Curtas da Árvore que envolvia leitura e produção de um filme sobre o livro. O padrinho desse projeto era o Wagner Moura, recebemos mais de 300 filmes e o engajamento também foi muito legal. No momento, estamos realizando o Prêmio Viajantes Literários, que envolve leitura e produção de texto com a temática de viagem. A madrinha desse projeto é a Marina Colasanti. Já são mais de 300 escolas participantes!

Como você avalia a aceitação e a evolução da leitura na plataforma? Os leitores se adaptam facilmente à leitura digital? O índice de leitura cresceu? Há um exemplo neste sentido você poderia nos relatar?

Os alunos já estão superacostumados a ler de maneira digital. Nós não acreditamos que existe uma briga ou discussão sobre a sobrevivência do livro físico. Acreditamos que ele sempre vai existir e sempre vai estar presente nas escolas. No entanto, é extremamente importante ter a possibilidade de viajar pelos dois mundos, de possibilitar o acesso a livros digitais também dentro da escola, já que é uma realidade que os alunos vivem o tempo todo. Nada melhor que colocar mais um conteúdo de qualidade dentro dos celulares deles, não?

Como acompanhamos os relatórios de acesso e leitura, podemos ver que temos conseguido em média dobrar a quantidade de livros lidos nas escolas que estamos presente. Como comentei numa outra pergunta, só no mês da maratona tivemos em média 9,2 livros lidos por aluno. Foram mais de 40 mil livros lidos em 1 mês. Número que a maioria dos alunos não leem em 1 ano inteiro.

Temos ainda os casos extremos, que nos deixam super orgulhosos, como do Caio Lima, do Salesiano de Natal, que no ano passado leu mais de 100 livros na Árvore.

Quais são as ações em planejamento da Árvore de Livros?

Temos muitos planos de ampliação ainda maior do acervo. Queremos ter mais livros, mais livros em outras línguas, mais revistas e jornais também. Além disso, queremos melhorar ainda mais a parte da plataforma de interação entre os professores, possibilitando a interação entre eles, para troca de boas experiências e atividades de leitura. Também queremos colocar ainda mais funcionalidades de interação entre alunos, professores e pais. Também estamos caminhando para integrar um sistema de avaliação da competência leitora de cada aluno na plataforma, para que a gente possa personalizar ainda mais o acervo para cada um e disponibilizar novos relatórios nesse sentido.

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