Por Thais Paiva da Carta na Escola

Registros da chegada dos  europeus e asiáticos nos séculos XIX e XX. Foto: Divulgação

Registros da chegada dos europeus e asiáticos nos séculos XIX e XX. Foto: Divulgação

Quem chega ao Museu da Imigração, em São Paulo, logo percebe que não foi só o prédio, a antiga Hospedaria do Brás, e suas instalações que passaram por transformações. Reaberto em maio após quatro anos de restauro, a instituição da Secretaria de Estado da Cultura traz também um novo olhar sobre a imigração no Brasil. Com acervo mais variado, que reúne registros da chegada de europeus e asiáticos, ocorrida nos séculos XIX e XX, à recente chegada de bolivianos e haitianos, entre outros povos, o fenômeno do deslocamento humano é apresentado para além de seu caráter histórico.

Daí a escolha de alterar o nome de Memorial do Imigrante para Museu da Imigração. “Antes da reformulação, o espaço trabalhava com a perspectiva da preservação da memória dos imigrantes que haviam passado pela hospedaria. Mas 
queríamos alargar esse conceito, requalificar o museu para que tratasse da imigração como um processo mais amplo”, explica Marília Bonas, diretora-executiva da instituição. A própria localização do prédio, entre a Mooca e o Brás – bairros surgidos em consequência da grande imigração dos séculos passados e que, ainda hoje, possuem dinâmicas de deslocamento expressivas – privilegia o debate. “O Brás recebe pessoas de todas as partes do País e do mundo, como nordestinos, africanos e latino-americanos. Já a Mooca acolhe cada vez mais bolivianos e chineses”, relata.

A fim de destacar essa pluralidade das experiências imigratórias, foi organizada a exposição de longa duração Migrar: Experiências, Memórias e Identidades. Dividida em oito módulos, a mostra traz documentos, fotos, vídeos, depoimentos, objetos e instalações que recompõem as trajetórias de migrantes nacionais e estrangeiros, abordando a imigração como um direito humano que deve ser garantido.

Segundo a diretora, o objetivo é aproximar experiências de diferentes fluxos, ainda que de contextos históricos, sociais e ideológicos particulares, por meio da essência comum que é ser imigrante. “Independentemente do contexto, ser imigrante é deixar um pedaço de si no local de origem e ter de se reconstruir em outro destino. Queremos mostrar para o descendente de italianos, por exemplo, que a experiência de seu avô tem pontos em comum com haitianos, bolivianos e nigerianos.” A exposição também realça como é essa diversidade de origens que traz riqueza para as identidades das cidades brasileiras e, especialmente, para São Paulo.

Essa contribuição é evidenciada na Sala São Paulo Cosmopolita, na qual a cidade é apresentada sob o viés das festas, arquitetura e outras manifestações culturais trazidas pelos imigrantes para os bairros Bom Retiro, Mooca, Brás e Santo Amaro. Já no espaço Imigração Hoje, painéis interativos convidam o visitante a montar digitalmente o rosto de pessoas que passaram recentemente pela experiência de deslocamento e ouvir seus depoimentos. “O público vem para o museu esperando apenas ter esse panorama histórico e se surpreende quando vê que o espaço já traz essa discussão das questões imigratórias atuais.”

Além da extensão temática, a reforma trouxe instalações mais tecnológicas e interativas, que possibilitam ao visitante uma imersão no tema. Exemplo disso está no espaço que reproduz o ambiente dos refeitórios da antiga hospedaria. Ali, o mobiliário, além da trilha composta de sons de talheres e pratos tinindo misturados a vozes que conversam em diferentes línguas, ajuda a transportar o visitante para o momento retratado. Ao lado, está a recriação de um dormitório, com projeções em grande escala de trechos de cartas sobre as camas. “A ideia é proporcionar uma imersão na vida dessas pessoas e que cada visitante possa se relacionar com o acervo a partir de suas próprias experiências.”

Para Marcelo Freitas, professor de História do Centro Educacional Ana Lelis Santana, em Guaíra (SP), o novo Museu da Imigração está não só mais atrativo aos olhos, como informativo. “O acervo possibilita essa interação com a história. O aluno consegue participar mais ativamente da exposição e não só contemplá-la”, diz. Outro ponto destacado pelo professor é a reflexão que o espaço traz. “Acho interessante mostrar para a turma essa parte da história do País, pois muitos dos alunos possuem antepassados que viveram aquelas situações. Ali podem imaginar o que seus avós, bisavós, enfrentaram”, conta Freitas, que esteve no museu com seus alunos do 7° ao 9° ano do Ensino Fundamental e 1° e 2° ano do Ensino Médio.

O Museu da Imigração é responsável pela articulação de cerca de 70 comunidades de imigrantes e descendentes da região. “Eles são os nossos parceiros na elaboração da programação cultural. As comunidades têm participação ativa nas decisões técnicas, desde curadorias colaborativas até a política do acervo”, explica Marília. Entre as atividades organizadas pela instituição está a Festa do Imigrante, que traz danças, músicas, artesanatos, gastronomia e contação de história.

Os grupos escolares podem optar por uma visita orientada pelo núcleo educativo da instituição, com ou sem atividade complementar.  É disponibilizado um material pedagógico produzido por especialistas na área em conjunto com a equipe do museu. O agendamento deve ser feito por telefone ou pelo site.

 

Comentários

Comentários