Por O Globo

O semiólogo, filósofo e escritor italiano Umberto Eco morreu nesta sexta-feira aos 84 anos. Ele era autor de sucessos como “O nome da rosa” (1980) e “O pêndulo de Foucault” (1989). Seu último livro, “Número zero”, foi lançado em 2015 e saiu no Brasil pela Record.

O autor morreu por volta de 22h30m em sua casa em Milão. As causas da morte, no entanto, ainda não foram divulgadas. Ele nasceu na cidade de Alexandria, ao Norte da Itália, em 5 de janeiro de 1932. Antes de começar a escrever romances de sucesso comercial, por volta dos 50 anos, Eco escreveu diversos ensaios sobre a semiótica, a estética medieval, linguística e filosofia. Seus primeiros trabalhos publicados eram estudos sobre a obra de São Tomás de Aquino.

O autor também exerceu influência ao estudar fenômenos de comunicação de massa, como programas de televisão, publicidade e histórias em quadrinhos. Desde 2008, era professor emérito e presidente da Escola Superior de Humanidades da Universidade de Bolonha.

Tido como um dos maiores intelectuais italianos, Eco se firmou como um dos grandes nomes da nova narrativa italiana. Era dono de uma prosa que misturava, em mesma medida, erudição, humor e referências da cultura pop.

Estreou em 1962 com “Obra aberta” e, desde então, entre estudos acadêmicos e romances, publicou clássicos como “Apocalípticos e integrados” (1964), “A estrutura ausente” (1968), “O super-homem de massa” (1978), “Lector in fabula” (1979), “O pêndulo de Foucault” (1989). “Como se faz uma tese”, o melhor amigo de gerações de universitários, foi publicado em 1977.

“O nome da rosa”, seu maior sucesso, vendeu milhões de exemplares e se passa durante a idade média, quando uma série de crimes acontecem em uma abadia. O livro foi adaptado para o cinema em 1986, por Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery como o frade franciscano Guilherme de Baskerville e Christian Slater como o noviço Adson von Melk.

— Somos 7 bilhões no mundo, então o número dos meus leitores é mínimo, mas alguns querem um desafio, querem que um livro seja uma provocação para a inteligência, um esforço. Os editores acham que o leitor quer coisas fáceis. Mas, para isso, ele já tem a televisão. Ninguém consegue explicar por que o único livro fácil que escrevi, “A misteriosa chama da Rainha Loana” (2004), não interessou a ninguém. Tudo chega mastigado. Escrevo para os masoquistas que querem ser maltratados — disse em entrevista ao GLOBO em dezembro de 2011.

BIBLIOTECA DE 50 MIL VOLUMES

Da direita para a esquerda, Umberto Eco, Giulio Macchi e Roland Barthes - Agência O Globo

Da direita para a esquerda, Umberto Eco, Giulio Macchi e Roland Barthes – Agência O Globo

Um dos 13 filhos de Giovanna e Giulio Eco, o autor contrariou os pais que desejavam que ele cursasse direito. No entanto, se inscreveu na Universidade de Turim para estudar filosofia medieval e literatura. Além disso, Eco trabalhou ainda como editor de cultura da RAI, a emissora estatal italiana, e tornou-se professor universirário.

Em setembro de 1962, se casou com Renate Ramge, professora de artes alemã com quem ele teve um filho e uma filha. Dividia o tempo entre o apartamento em Milão e um casa de férias perto de Rimini. Nas duas casas, ele mantinha bibliotecas com, ao todo, 50 mil volumes. Alguns deles tinham até 500 anos.

— Quase não vou a bibliotecas, tudo o que me interessa está aqui. Quando penso em ir a uma livraria, também não vou, porque recebo todos os livros lançados, infelizmente — disse.

Bibliófilo, lançou no ano de 2010 “Não contem com o fim do livro”, em que conversa com o roteirista Jean Claude-Carrière. Nele, defendia a sobrevivência do livro em papel como formato.

— Eu não poderia ler Proust em formato digital. Seria impossível. Se eu tivesse que deixar um legado para o futuro, deixaria um livro, e não em formato digital — afirmou em entrevista coletiva no ano de 2009.

Lançado no ano passado, “Número Zero” é uma crítica à imprensa que manipula e distorce fatos em busca de chantagens. O autor dizia que se inspirou em personagens reais do jornalismo italiano para estruturar o romance.

“Meu romance não é apenas um ato de pessimismo sobre o jornalismo da lama; acaba com um programa da BBC, que é um exemplo de fazer bem feito. Porque existe jornalismo e jornalismo. O impressionante é que quando se fala do mau, todos os jornais tratam de fazer acreditar que se está falando de outros… Muitos jornais se reconheceram em Número Zero, mas agiram como se estivessem falando de outro”, disse ao “El Pais”.

O autor era um contumaz crítico da contemporaneidade. Por diversas vezes, criticou o papel das novas tecnologias no processo de disseminação da informação. Ao receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Turim, no ano passado, ele afirmou que as redes sociais legitimam “ua legião de imbecis”.

— Normalmente, eles eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”, disse.

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