RIO – O Dia do Rock, comemorado em 13 de julho, é celebrado mundialmente por milhões de fãs. É nesse ritmo que a Revista Biblioo relembra um momento especial para quem curte um bom acorde: o primeiro disco.

Lembro detalhadamente de quando, à tardinha, resolvi ir ao hipermercado. Logicamente, com 15 anos e sozinho, não faria a compra do mês. A visita tinha objetivo: a seção de CDs. À época a antiga (e mui saudosa) Rádio Cidade tocava uma versão acústica de “Que País é Esse?” e a voz não era a de Renato Russo. Os versos ficavam por conta de Herbert Vianna. A faixa fez parte do álbum “Acústico MTV” (1999) dos Paralamas do Sucesso. Era esse que eu queria! Não me recordo o preço, mas a alegria de sair da loja com um disco de vinte e poucas músicas ainda está na memória. Obviamente, quem “sofreu” foi minha mãe… Se ainda tenho o CD? Aquela cópia o tempo tratou de levar. Mas sem problemas. Comprei outra igualzinha, que atualmente se encontra na seletíssima coleção de discos que tocam no meu possante carango. Confira outros “encontros” entre fãs da Biblioo e seus discos:

Os Paralamas do Sucesso (Foto: Divulgação)

Rodolfo Targino (Editor adjunto)

Como tenho um tio músico, desde pequeno fui incentivado a estudar música e tocar violão. Minhas primeiras experiências com o rock começaram ouvindo a Legião Urbana. O primeiro disco que comprei da banda foi o “Descobrimento do Brasil”, lançado em 1993.  A letra da canção, “Perfeição”, para mim é a que mais me marcou nesse álbum.

Sou da época em que me reunia com amigos para ouvir a Rádio Cidade e a Fluminense (a maldita). Além dessas rádios, a programação da MTV e do SBT com o Programa Livre eram canais utilizados para se manter atualizado através dos programas especiais com bandas do cenário nacional e internacional da época.

Além da Legião, era sagrado ouvirmos: Nirvana, The Doors, The Smiths, Pearl Jam, Plebe Rude, Pink Floyd, Titãs, Barão Vermelho, Bush, Rage Against The Machine, Nenhum de Nós, Engenheiros do Hawaii, entre outras.

Legião Urbana: ícone dos anos 80 e 90 (Foto: Divulgação)

Rodolfo lembra as palavras de Renato Russo: “O rock é, talvez, o único meio que a minha geração tem para se expressar. O jovem não lê mais, não estuda mais, a gente não tem abertura na TV […] O rock tinha mais expressão, hoje, como um todo, ele está baleado. Mas acho que, enquanto houver um garoto querendo tocar uma guitarra para ganhar as menininhas, o rock vai existir”.

 

Emilia Sandrinelli (Editora Executiva)

Quando eu era criança, eu e meu primo usamos toda a capacidade que uma criança tem para ficar obsessiva com as coisas mais aleatórias para acabar com a paciência de nossas mães assistindo a fita k7 do Rei Leão umas cinco vezes por dia. Alguns anos mais tarde, já na pré-adolescência, esse mesmo primo me fez ouvir o álbum duplo “Como se diz eu te amo” da Legião Urbana e mais uma vez estávamos nós obsessivos e os dois CDs que compunham o álbum conseguiram ficar ainda mais gastos do que nossa fita do Rei Leão.

Na época o download de músicas não era tão difundido e por isso a enorme e super completa coleção de CDs da Legião Urbana do meu padrasto ajudou que eu começasse a ouvir outros álbuns e depois outras bandas. Então, enquanto eu estou vagando entre Paralamas do Sucesso, Titãs e Barão Vermelho, meu primo aparece com o acústico MTV do Capital Inicial e quando me dou conta estava economizando o dinheiro do ônibus para comprar o novo CD “Rosas e Vinho tinto” que estava para ser lançado e um CD novo significa uma turnê de lançamento. Então, poucos meses depois, estava eu no show.

Depois desse primeiro show, muitos outros seguiram e também festivais e, durante esse caminho, fui dando os primeiros passos para fora do rock nacional começando com o álbum preto do Nirvana. A essa altura o rock já não era mais uma coisa só dentro de casa, meu grupo de amigos era formado por uma variedade de fãs de vários seguimentos do gênero e os shows, das bandas famosas ou das iniciantes eram uma constante: sendo highway to hell ou stairway to heaven, o caminho do rock já era um caminho sem volta para mim.

Acústico Capital Inicial (Foto: Reprodução)

 

Hanna Gledyz (Editora de Criação)

No auge da dança do tchan e a moda dos grupos americanos dançantes, eu, ainda muito criança, não pude resistir. Era muito jovem para notar a imoralidade ou qualquer outra coisa, era apenas divertido. Neste tempo, claro, a música nunca foi fonte de expiração, de reflexão.

Um dia, o amigo do amigo emprestou-me dois Compact Discs, um da banda Kiss e outro da banda Guns N’ Roses. Esses CDs transformaram os meus pensamos, minha postura e até meus trajes. Mas fato é que o hard rock foi apenas o ponta pé inicial.

A pacata cidade em que morava na época não possui sequer uma livraria, quando mais uma loja de CDs, então o que restava era trocar músicas com os amigos entre um tereré e outro, ou esperar horas o download de uma música pela internet.

Entre Avril Lavigne, passando por Slipknot até chegar aos clássicos nacionais e internacionais como Beatles e The Who, Titãs e Paralamas do Sucesso, descobri no rock fonte de inspiração, de alegria e de indignação.

 

Rock como informação e cultura

Cabe ressaltar uma questão (quase) própria do rock: além de componente cultural, as músicas são, em potencial, um poderoso veículo de informação. O rock pode cobrar, criticar, provocar. Citemos os exemplos de “Veraneio Vascaína” (Capital Inicial) e “Proteção” (Plebe Rude):

Se eles vêm com fogo em cima, é melhor sair da frente
Tanto faz, ninguém se importa se você é inocente
Com uma arma na mão eu boto fogo no país
E não vai ter problema eu sei estou do lado da lei
Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, dentro dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina…

Cantavam os caras da Plebe:

Tanques lá fora, exército de plantão
Apontados aqui pro interior
E tudo isso pra sua proteção
Pro governo poder se impor
A PM na rua nosso medo de viver
O consolo é que eles vão me proteger
A única pergunta é: me proteger do que?
Sou uma minoria mais pelo menos falo o que quero apesar repressão…

E o leitor pode acrescentar quantas canções desejar nesta listagem de “hinos” contra corrupção, abusos, desigualdade, governo, etc. O rock é assim: básico, objetivo, afiado e inesquecível, como o primeiro disco.

 

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