Muito tem se discutido a respeito do “descaso com a literatura nacional” nas redes sociais e grupos literários. Mesmo diante a um cenário atual, onde vários títulos nacionais alcançaram o primeiro lugar de vendas pela PublishNews, pode-se dizer que esse quadro ainda tem muito a ser mudado. Afinal, após realizar uma pesquisa quali-quantitativa com autores, leitores, blogueiros, livreiros e pessoas envolvidas com o mundo literário, foi possível identificar que ainda há certo repúdio e muito a ser mudado para que a literatura nacional, principalmente a brasileira, entre para a lista dos mais vendidos e apreciados pelos leitores no geral.

Num cenário de 91 pesquisados, onde 58 são leitores e 33 são autores e 2,2% respondeu não gostar de ler, o que
corresponde a dois entrevistados, é nítido que a leitura num contexto geral está presente na vida das pessoas e, melhor que isso, fazem, simplesmente por que gostam, ou ainda, segundo pesquisa do Instituto Pró-livro, porque a leitura é uma fonte de conhecimento para a vida, atualização profissional e pra grande maioria, uma maneira de “vencer na vida”.Grazielli de Moraes - Descaso com a literatura nacional - grafico1
A partir dessa primeira análise, buscou-se identificar junto aos autores a média de livros publicados por eles, e o cenário encontrado é muito precário, tendo em vista que a produção editorial cresce cada dia mais.

Grazielli de Moraes - Descaso com a literatura nacional - grafico2

Em se tratando da literatura nacional, observou-se que embora haja certo descaso sobre a literatura brasileira, grande parte dos respondentes declararam ler esse tipo de literatura (89, 8% Sim), mas reconhecem esse certo descaso tanto por parte dos leitores, como das editoras quando se trata de publicá-los. Várias são as justificativas encontradas por estes, muitas delas pertinentes. Veja algumas representadas na lista abaixo:

  • Maior força cultural oral, devido ao analfabetismo;
  • Custos das obras elevados vs baixa renda familiar;
  • Falta de confiança das editoras em relação ao que é nacional;
  • Falta de publicidade e divulgação por parte das editoras e livrarias ou até mesmo leitores;
  • Estrangeirismo – imaginar que o que é nacional tem qualidade inferior;
  • Preconceito devido à competitividade dos próprios autores – em ler ou divulgar livro de parceiros literários;
  • Excesso de verbetes desconhecidos nas obras;
  • Trauma – obrigatoriedade de leitura dos clássicos nas escolas sem saber se de fato o aluno está preparado para lê-los;
  • Plágio de obras internacionais;
  • Falta de fomento para publicação de livros brasileiros e para a cultura;
  • Ausência de auxílio de profissionais ligados à leitura (professor, bibliotecário etc.);
  • Supervalorização da mídia ao que é de fora.

Mas há ainda os que acreditam que aos poucos esse cenário está sendo mudado, seja por conta das iniciativas dos próprios autores com suas auto publicações e auto divulgações, ou ainda pelas parcerias com blogueiros, booktobers e leitores que publicam em suas redes sociais a experiência de ler livros nacionais e brasileiros.

Como alternativa para melhorarmos ainda mais esse cenário, os respondentes mencionam que é necessário que haja maior divulgação do que é “nosso” (nacional), que editoras e mercado livreiro deem mais espaço; que sejam criados mais clubes de leitura com espaço para abordar esses questionamentos e livros desse gênero; que haja uma reestruturação na formação de leitores nas escolas, preços mais acessíveis; uma nova reestruturação das bibliotecas; mais incentivo fiscal para a leitura; participação da mídia e ainda maior interesse das editoras pelas plataformas de publicação de livros online Wattpad e Amazon, espaços estes onde os autores publicam suas obras online e interagem com leitores.

E também maior espaço para blogueiros, booktobers e leitores que dispõem de seu tempo para divulgar livros, editoras e autores em suas redes sociais e eventos literários, muitas vezes produzidos por eles mesmos.

Depoimentos dos entrevistados

“O que está na moda interessa, ou seja, foi publicado um livro estrangeiro a pessoa não dá a mínima até que vê seu grupo de amigos lendo e então vira fã e lê o livro”.

“Os editores não querem correr riscos, então optam por obras que deram certo lá fora”

“A leitura por obrigação raramente consegue os seus objetivos. Em Portugal a promoção e edição de autores portugueses nunca foi tão rica, agora se isso corresponde a um aumento de vendas? Tenho dúvidas… os leitores são exigentes e acredito que sabem distinguir o bom do mau. Seria interessante as editoras terem um cuidado maior na seleção dos autores a editar e, claro, fazer sempre um marketing mais direcionado a autores nacionais (de qualidade!)”.

“Autor nacional não tem acesso às livrarias. Trabalho em uma editora e sei que é muito difícil uma livraria grande aceitar livros nacionais. Até as distribuidoras hesitam em comprá-los”.

“Preconceito do leitor. Mesmo se o livro for produzido de forma profissional, ser bem revisado e ilustrado; tiver uma excelente história… ainda assim o leitor torce o nariz e não lê. Nem sequer se dispõe a manusear ou baixar o livro mesmo se for gratuito.”.

“Julgo ser crítico é a eficiência da nossa educação nas escolas públicas. Com salas lotadas ou sem estrutura para se ter uma boa aula, a chance da criança criar o hábito e gosto por leitura é muito raro, o que resulta no desinteresse não só por escritores brasileiros, mas por literatura de modo geral”.

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