No dia 17 de setembro de 2017 um grupo de traficantes invadiu a Rocinha, favela localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, dando início ao que a grande mídia passou a chamar de “Guerra da Rocinha”. Segundo estes veículos, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, deu ordem, a partir do presídio federal onde está preso em Rondônia, para que Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que lhe sucedeu no posto de chefe do tráfico na comunidade, deixasse o local.

A partir deste momento o que se viu foi o crescimento de um conflito que redundaria na ocupação da comunidade pelas forças de segurança do estado: primeiro a Polícia Militar, depois o Exército. No meio desta “guerra” os cidadãos que, habitando a maior favela da América Latina, continuam privados de muitos de seus direitos fundamentais, como o de estudar, trabalhar, transitar livremente etc.

É na Rocinha, a propósito, que está uma das quatro unidades das bibliotecas-parque do estado. A Biblioteca-Parque da Rocinha (BPR) foi inaugurada em 2012 para atender as necessidades culturais da comunidade. Com 1,6 mil metros quadrados, a BPR possui (ou possuía) cinco pisos, DVDteca, cineteatro, sala multiuso para cursos, estúdios de gravação e edição audiovisual, setor de leitura e internet comunitária, cozinha-escola e café literário.

Com a crise econômica e os desmandos políticos pelos quais o estado passa, a BPR acabou, juntamente com as outras unidades localizadas no município do Rio, por fechar suas portas no final de 2016 deixando funcionários (empregados que estavam de forma precária) e moradores órfãos de sua biblioteca e de todos os serviços que ela oferecia ou potencialmente poderia oferecer.

“Invadir a Rocinha é fácil. Difícil é reabrir a Biblioteca-Parque da Rocinha”, diz o cartaz da campanha #reabreC4. Imagem: divulgação

Isso tem motivado os moradores a pedirem a reabertura da Biblioteca. “Invadir a Rocinha é fácil. Difícil é reabrir a Biblioteca-Parque da Rocinha” diz uma campanha que circula nas redes locais. “Amo bibliotecas e torço para que a da Rocinha seja reaberta”, se manifestou a internauta Zeneide Belizio. “Cadê aquele monte de hipócrita falando de realidade que não vive, apoiando a subida da cultura nas favelas? Pois pra apoiar a subida da Polícia e truculência nas casas de quem nada tem haver com o tráfico tiveram milhares! […] A educação, a arte e a cultura é a solução”, disse a internauta Amanda Ribeiro.

Ontem (2) a página do Facebook “Rocinha em Foco”, canal dedicado, especialmente, a utilidade pública e pequenos informes sobre a rotina da comunidade, noticiou que a BPR pode ser reaberta nos próximos meses. Segunda o site, a Secretaria de Estado de Cultura (SEC) abriu uma licitação para contratar uma empresa que irá fornecer mão-de-obra para o espaço voltar a atender a população local.

Procurado pela Biblioo, o superintendente de Leitura e Conhecimento da SEC, Juca Ribeiro, disse que o processo licitatório ainda está em curso. De acordo com Ribeiro, após esta fase ocorrerá o processo de recrutamento no qual serão contratados 64 funcionários em funções como recepcionista e bibliotecário, que atuarão nas três bibliotecas da rede: Bibliotecas-Parque do Estado, da Rocinha, e de Manguinhos. A verba prevista para financiar a reabertura das três unidades é de R$5,3 milhões, e o contrato é de um ano.

Outras promessas

Em entrevista à Biblioo em março deste ano, o secretário de Cultura, André Lazaroni, informou que a Biblioteca-Parque Estadual, localizada no Centro do Rio, voltaria a funcionar com o emprego de servidores da área da Educação, dentre os quais professores, situação que nunca se confirmou.

Em julho a organização não-governamental (ONG) Espaço Jango anunciou que poderia assumir a administração das bibliotecas. A ONG informou a época que havia dado entrada, junto a SEC, a um pedido de concessão não onerosa das bibliotecas pelo período de 25 anos. Mais uma vez nada aconteceu.

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