O 1º Encontro sobre Bibliotecas e Arquivos da Universidade Federal Fluminense (UFF) foi realizado no dia 9 de dezembro de 2016, no Campus do Gragoatá, em Niterói. Organizado pela Comissão dos Trabalhadores em Bibliotecas e Arquivos (CTBA/UFF), o evento discutiu as “As condições de trabalho e o fazer nas Bibliotecas Universitárias e Arquivos da UFF”. Voltado para bibliotecários, arquivistas, discentes, docentes e demais servidores interessados no tema, pois as condições de trabalho afetam a todo, o encontro contou com apoiadores/colaboradores: SINTUFF, Revista Biblioo, APCIS/RJ, SINDIB/RJ e CRB/7.

Segundo a CTBA/UFF, o objetivo do evento foi mobilizar e conscientizar os profissionais da informação do valor das bibliotecas e arquivos da universidade, da importância dos profissionais e o papel das unidades de informação na pesquisa acadêmica, bem como reunir, mobilizar e conscientizar os profissionais da informação.
A primeira mesa debatedora foi “A importância das bibliotecas e dos arquivos e da pesquisa na comunidade acadêmica” sendo composta por João Carlos Gomes Ribeiro (bibliotecário, ex-diretor do Núcleo de Documentação da UFF), Regina de Barros Cianconi (doutora em Ciência da Informação, professora do Curso de Biblioteconomia e Documentação da UFF e da pós-graduação em Ciência da Informação-PPGCI/UFF) e mediada por Nilo Ribeiro (bibliotecário da UFF, especialista em Gestão Pública e membro da CTBA/UFF).

O bibliotecário João Carlos proferiu a palestra “A importância das Bibliotecas e Arquivos: histórico do Sistema de Bibliotecas da UFF”, onde recordou com todo o público a sua trajetória profissional na instituição. As suas primeiras memórias com a criação do curso de Biblioteconomia (1967), da Exposição do Egito, organizada por ele em julho/1969, do início do Sistema de Bibliotecas da UFF (1969/1970), da criação do curso de Arquivologia (1976) até os primeiros anos da década de 2000. Ressaltou que a luta dos profissionais da informação sempre foi constante, seja com os assédios que sofriam, dos livros que sumiam e que estavam em departamentos sem o consentimento das bibliotecas, dos livros censurados pela ditadura, entre outros. Finalizou a sua fala narrando a “Fábula da Convivência”, onde mostrou a todos a importância de cada, da união em grupo e do respeito para uma convivência sadia.

Em seguida, teve início a palestra “Pesquisa científica na academia: a biblioteca universitária como mediadora da construção de conhecimento” com a professora Regina Cianconi. Ela evidenciou o papel fundamental da biblioteca universitária no processo de apoio aos docentes e discentes no ensino, na pesquisa e na extensão. Também mencionou a importância desta no compartilhamento de informação, do papel cultural e social da biblioteca e na produção colaborativa do conhecimento.

Cianconi enfatizou como as mídias e as redes sociais vêm dando reflexo na nossa vida diária e não seria diferente na biblioteca. Segundo ela, estas mídias vêm reconfigurando a pesquisa nas bibliotecas universitárias, onde houve um crescente das pesquisas on-line. Ela apresentou dados que mostram o quanto são tímidos os serviços com bases em fontes, formatos e suportes diversos nas instituições federais de ensino superior (IFES) no Brasil, pois apenas 43% utilizam o Facebook como serviço; 29% o Twitter; 7% os Blogs; 6% o RSS e vídeos no Youtube e em menor porcentagem outros.

Conforme informou, a maioria das bibliotecas das IFES se restringe à consulta ao seu próprio catálogo e divulgação do acervo, havendo como mencionado pouca ou quase nenhuma interação dos sistemas de gestão de acervos das bibliotecas com recursos da web social (web 2.0), que permite a colaboração. Citou ainda que no cenário brasileiro se vê o início das bibliotecas híbridas (documentos impressos e digitais), tendo como exemplo a biblioteca da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC/RJ). Diferente do cenário internacional, onde já se percebe novas configurações dentro das bibliotecas como Information Commons (espaço de convivência físico/virtual no qual recursos são compartilhados) e Makerspaces (espaço de laboratórios de oficinas nas bibliotecas).

Por fim, Cianconi mencionou a importância do profissional em se manter atualizado com as tecnologias e convergências de mídias e de atuar mais como mediador para melhorar o atendimento aos usuários. Quanto às bibliotecas, ela citou novas perspectivas para as bibliotecas universitárias como hospedagem de blogs e wikis no site das mesmas, que nesses sites haja a veiculação de vídeos, fotos, sons e conteúdos de acesso aberto e gratuito, sendo preciso que se desenvolvam habilidades e competências profissionais.

A segunda, “Assédio moral nas Bibliotecas Universitárias e Arquivos”, foi composta pela palestrante Terezinha Martins dos Santos (doutora em Psicologia Social e professora na Escola de Serviço Social da UNIRIO) e pela mediadora Claudiana Almeida de Souza Gomes (bibliotecária da UFF, mestre em Ciência da Informação, graduanda em Pedagogia e membro da CTBA/UFF). Terezinha proferiu a palestra “Assédio nas universidades públicas: da sala de aula às bibliotecas e arquivos”, onde conceituou o assédio moral como uma forma de gestão que objetiva se livrar do profissional assediado. Segundo a mesma, o perfil dos profissionais assediados é: aqueles que militam e questionam a organização da instituição; os que possuem problemas físicos e/ou emocionais; e os que são considerados “certinhos”, pois realizam bem o seu trabalho. Segundo ela, as mulheres são mais assediadas que os homens. Geralmente, o assediador constrói a imagem de um mau profissional ou de incompetência entre os colegas e isto gera até conflitos entre estes.  Mencionou que ainda não há uma lei de âmbito federal sobre o assédio moral, embora seja um problema político e coletivo. Falou da falta de pesquisa financiada pelo governo sobre o adoecimento no trabalho. Ressaltou que o profissional da informação tem que estar atento, pois como é o “guardião do saber”, a sua posição dentro da universidade não é tranqüila, principalmente, na época atual, que valora a racionalização do saber ao invés da democratização do saber.

A terceira mesa debatedora foi “Abordagem sobre a insalubridade em bibliotecas e brquivos: quais os riscos para os trabalhadores”, sendo composta pelas palestrantes Francelina Helena Alvarenga Lima e Silva (doutora em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas, Tecnologista Sênior em Saúde Pública da FIOCRUZ) e Jeorgina Gentil Rodrigues (doutora em Informação, Comunicação em Saúde – ICICT/FIOCRUZ, bibliotecária e presidente da APCIS/RJ) e pela mediadora Claudiana Gomes.

A bióloga Francelina iniciou sua fala contando um pouco da sua trajetória profissional no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e apresentou alguns conceitos de insalubre, insalubridade e biossegurança, sendo este último um conjunto de saberes direcionados para ações de prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino e desenvolvimento tecnológico. Segundo a pesquisadora, é preciso ter uma comunicação de riscos nas instituições e que esta é uma via de mão dupla entre o gerenciamento de risco e de avaliação de risco. Na avaliação, explicou, toma-se ciência da origem do agente de risco e se reflete sobre quais medidas poderão ser tomadas. Já o gerenciamento é a tomada de decisão que envolve fatores políticos, sociais, econômicos, administrativos e de engenharia da instituição.

Francelina abordou também um pouco sobre a Portaria GM nº 3214 de 08/06/1978 e as normas NR-5 (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes–CIPA), NR-15 (Atividades e Operações Insalubre) e NR-32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde). Esta última norma trata sobre os riscos biológicos (bactérias, fungos, parasitas e insetos) e os riscos químicos que diariamente os bibliotecários e os arquivistas são submetidos em seus locais de trabalho. Relatou vários problemas de saúde que os profissionais da informação estão submetidos e acabam adoecendo, por isso, enfatizou o quanto é importante a higiene ambiental adequada e o uso de equipamento de proteção individual (como máscara, óculos, jaleco, luvas) e de equipamentos de proteção coletiva. Além disso, afirmou categoricamente que o fornecimento de proteção individual é obrigatório no ambiente de trabalho e que este deve ser fornecido pela instituição. O trabalhador tem que exigir esses equipamentos.

A bibliotecária e presidente da APCIS/RJ, Jeorgina Rodrigues, fez um relato de caso sobre o acidente que presenciou na biblioteca de Manguinhos (FIOCRUZ). Segundo a mesma, a biblioteca foi inaugurada em agosto/1995 e desde a sua inauguração o grande problema foi o mau funcionamento do sistema de ar-condicionado central, pois deveria manter na temperatura e na umidade adequadas. Ela explicou que quando chegou ao final do ano, a biblioteca ficou em recesso e o ar ficou desligado. Quando os funcionários retornaram ao trabalho em 1996, a biblioteca possuía uma grande névoa branca, sendo necessária intervenção estrutural, formigação do acervo e intervenção preventiva no mesmo, isto é, higienização de 620 mil obras e descontaminação em duas etapas. Este caso tornou-se público através dos meios de comunicação. Jeorgina mencionou que é um grave erro ter nas bibliotecas ar-condicionado central. Ressaltou que é preciso conscientizar os gestores da importância dos IPIs e finalizou sua apresentação com uma frase do médico sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917): “corte-se a verba para alimentação, mas não se sacrifique a biblioteca”.

Após estas mesas, o encontro seguiu com relatos e palestras. O relato foi proferido por Helania Oliveira Madureira (bibliotecária da UFF), que fez um relato de experiência sobre a avaliação do MEC na Biblioteca de Volta Redonda para validação dos cursos. Ela mencionou que há alguns aspectos relevantes: o contato com a coordenação dos cursos antes do envio dos documentos; a questão da acessibilidade na unidade; os pontos de acesso à internet; quanto à segurança do acervo; o acesso ao acervo; informatização do acervo; acesso ao Portal Capes; a ementa e as bibliografias devem estar atualizados, com o quantitativo correto etc.

O Sindicato dos Bibliotecários do Rio de Janeiro (SINDIB-RJ) esteve representado pela sua presidente, Luciana Manta, e pelo assessor jurídico, Márcio Bandeira. Em sua fala, a presidente abordou o tema “O SINDIB-RJ e a política sindical atual: o estado da arte”.

O ciclo de apresentações foi encerrando com a palestra do professor Antonio Agenor Briquet de Lemos, que também é livreiro e editor, falando sobre “O fazer biblioteconômico em tempos difíceis: sem estrutura, mas sem perder a ternura… o desafio de ser”. Briquet narrou suas memórias nas bibliotecas desde que começou a trabalhar nas bibliotecas ainda na adolescência. Desde cedo, percebeu a importância de entrar no universo do usuário e cativá-lo, atuar como mediador. Mencionou que percebe a falta de planejamento nas instituições informacionais. Citou o livro “A Missão do Bibliotecário”, de José Ortega y Gasset (1967), e o “Tratado de Documentação”, de Paul Otlet (1895), para falar sobre o excesso de informação e da produção de fakes na internet. Falou sobre a abertura das bibliotecas públicas ao seu acervo, assim como da necessidade nas bibliotecas universitárias reconquistar os docentes para trabalhar juntos. Lançou um questionamento sobre o papel dos bibliotecários na educação à distância. Comentou sobre o perfil do bibliotecário que, segundo ele, antes era de classe média, caucasiana, geralmente mulheres que moravam na zona sul, sendo uma classe que não questionava e que no Brasil foram passivos durante a ditadura militar; mas que esse perfil vem mudando com o tempo, embora ainda seja um profissional colocado à parte dentro da instituição. Ressaltou a importância de saber pesquisar e de citar as fontes originais e que o bibliotecário pode atuar junto aos docentes nesse processo.

Briquet de Lemos

O editor-chefe da Revista Biblioo, Chico de Paula, parabenizou o encontro na UFF e disse que ainda há poucos eventos com o viés politizado e que a biblioteca universitária é um tanto marginalizada na instituição devido à postura do profissional.

Chico de Paula

Por fim, Gilda Sousa de Alvarenga (bibliotecária da UFF, especialista em Biblioteconomia e Membro da CTBA/UFF) fez a leitura do manifesto do 1º Encontro sobre Bibliotecas e Arquivos da UFF. O encontro foi encerrado com a apresentação do Coral Cantate Diem sob a regência do maestro Joabe Ferreira, com coquetel e com sorteio de livros.

Durante todo o dia, o público presente se mostrou bastante interessado e mencionou o quanto estava satisfeito com o evento, pois estava sendo muito enriquecedor. O evento mostrou como a classe dos profissionais de informação podem se unir e apresentar bons frutos. Que venham mais encontros sobre bibliotecas e arquivos da UFF nos próximos anos.

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