Há algumas semanas presenciei uma cena intrigante e bastante representativa. Duas jovens de aproximadamente 33, 34 anos olhavam atentamente a tela de um celular. Eu estava ao lado e percebi que conversavam em alto som sobre as postagens de uma terceira garota, em uma rede social. Mesmo cercadas por várias pessoas (todos esperando a barca rumo ao Centro do Rio de Janeiro) não se importaram e, “tomando conta da vida alheia”, comentavam avidamente sobre a “fulana”. Aqui, o sentido de comentar não era o de escrever sobre, e sim o de verbalizar.

Fiquei pensando: “até que ponto vale a pena participar de redes sociais?”. É óbvio que muitos irão pensar na impossibilidade de viver o século XXI longe delas. Mas será que essa premissa é verdadeira? Estamos obrigados a aderir à ditadura digital para sermos completos e aceitos em grupo?

Por mais que utilizemos os recursos de filtragem para marcações, comentários e outras ações, participar da rede pode ser sinônimo de expor-se, querendo ou não. Certamente você ou algum amigo já travou uma discussão com a namorada mais ou menos nesses termos: “Você não quer mostrar que está em um relacionamento sério comigo?”. Aposto que já ouviu algo parecido.

Não quero debater sobre as coisas boas que essas redes oferecem. A cegueira seria uma ignorância. Divulgar, trocar informações, compartilhar, curtir, usar as redes sociais como fontes de informação (cada vez mais crescentes) tem um peso inédito e positivo. Mas você não estará sozinho caso sinta aquele desejo de desconectar-se e retornar à simplicidade do dia a dia. Um tempo longe das notificações pode ser uma boa para quem quer relaxar.

Existe o grupo dos resistentes (não às funcionalidades da vida digital, mas sim aos exageros e ao sufocamento da web) que está trocando as horas coladas à tela pela leitura de mais um livro, por exemplo; gente que não esquenta para o último modelo de Smartphone e que lembra que telefone não precisa, necessariamente, ter dezenas e dezenas de funções e aplicativos.

Não se ache um E.T. digital se você não está a fim de viver esse ritmo acelerado, decretado não sei por quem, não sei quando. Ninguém que esteja “on” precisa saber das coisas que você faz, dos relacionamentos que assume, dos que rompe, da data em que você casou, do desapontamento pelo qual tem passado, dos seus planos, da quantidade de filhos etc. – ao menos que seja concedida por você a permissão e autorização para que saibam. O controle e o equilíbrio sobre as publicações são bem-vindos. Mas saiba: tem gente que se ocupa, quase que como uma Ciência, em observar o que você está fazendo. Infelizmente é assim.

Também não precisa enclausurar-se como bicho do mato. A melhor opção pode ser a harmonia entre a vida digital e a vida real, sabendo que a mais valiosa e que deve ser respeitada é aquela que nos difere de todos os outros seres, justamente por nos oferecer a faculdade do entendimento, a ponto de concluirmos sobre aquilo que nos proporciona bem estar e nos faz curtir verdadeiramente o que é bom.

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