Aproveitando o tema do Carnaval e a explosão de cinzas na literatura brasileira, escrevi o texto desse mês.

Antes, um aviso: não li Cinquenta tons de cinza! Não lerei e não considero aquilo como literatura erótica. De início tive interesse, depois refletindo sobre, enterrei a vontade. Talvez porque os livros sexualizados escritos pela balzaquiana britânica estejam mais para ki-suco adoçado com contos de fadas do que para literatura erótica para gente grande, de tão rala que é. Considero a relação entre as personagens extremamente abusiva e me assusto quando em colóquios, outros não percebam.

Não é no livro dela que quero me focar. E sim, que existem inúmeros outros livros capazes de despertar a capacidade multiorgástica com alguns parágrafos, obras essas muito mais interessantes e excitantes.

Assunto tabu, o sexo sempre foi! Contudo sexo ao mesmo tempo é informação e liberdade. Então porque não uma sessão de literatura erótica nas bibliotecas?

Um bom livro erótico não precisa ser exclusivamente voltado para agradar os adolescentes que nunca saem do banheiro. Na verdade, a boa pornografia consegue provocar o desejo com suas narrativas, geralmente, mais explícitas e diretas. A escrita erótica sem eufemismos e floreios, às vezes assusta os leitores menos habituados a esse tipo de leitura, porém depois de alguns capítulos deixa de incomodar e passa a desencadear reações bem diferentes. O novo vocabulário pode até ajudar no repertório de sacanagens para usar durante o ato, que nem sempre sai com facilidade da boca de algumas pessoas.

Ler pornografia, de preferência a de boa qualidade, ajuda a estimular a libido e as fantasias. O erotismo muitas vezes sofre preconceito até dentro do relacionamento. Namoradas e esposas falando que não precisam disso, ficantes, maridos, amantes, namorados e afins inseguros com o que esse tipo de leitura pode provocar na mulher.

Incentivar esse tipo de literatura não é dar um tiro no pé! A mulher e o homem até podem (e devem) querer gozar sozinhos, livres para se encaixar na história como bem entendem, certamente vai sobrar fome e desejo para completar a leitura até o final, juntos!

Então nesse clima de carnaval, como uma oferta para Baco separei alguns livros, de diversas épocas e estilos, de literatura erótica para valer, sem muitos disfarces. São obras bem diferentes, assim pretendo agradar a todos os paladares.

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A vida sexual de Catherine M. , de Catherine Millet

Homem x Mulher. Sexo x Amor. Crescemos acreditando nas diferenças claras. A autora vai na contramão dessa história e mostra que é possível que mulheres (ela) façam sexo por sexo e narra de maneira “extremamente honesta” suas mais variadas experiências sexuais de forma crua e libertária. Catherine Millet se entrega ao sexo sem restrições, com homens, mulheres, travestis, feios, sujos, a dois, a três, a quatro, a muitos, deixando-se levar sem resistência. A francesa não economiza detalhes na descrição de suas experiências transgressoras.

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A Casa dos Budas Ditosos (Luxúria), João Ubaldo Ribeiro

É a transcrição de fitas entregues anonimamente com os originais relatos de CLB, uma senhora de 68 anos, nascida na Bahia, mas moradora do Rio de Janeiro, que viveu o sexo pelo prazer sem nenhum tabu ou culpa. De tão obscena, a velhinha quase parece um homem, mas é incrivelmente divertida e excitante do mesmo jeito. Para ela, tudo é natural no sexo e as taras mais escabrosas, incluindo o incesto, são descritas em um só fôlego, sem máscaras nem preliminares (entre elas: menor seduzindo um adulto, incesto, sexo com garotos de programa, o casamento com um bissexual, surubas com religiosos…) nos leva à reflexão sobre temas tabus relacionados à sexualidade.

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Pequenos pássaros, Anais Nïn

Anais Nïn, nascida na França, foi uma vanguardista do feminismo e da revolução sexual. Os contos eróticos foram escritos na década de 1940, mas o livro somente foi publicado na década de 1970, depois da morte da autora. Anais foi amante do escritor Henry Miller e retratou com detalhes a sua vida dupla em diários, editados somente após a morte de seu marido. Seus textos retratam bastante o perfil da mulher da época, cheia de desejos e repressões.

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Pornopopeia, Reinaldo Morais

Bom humor sempre ajuda no sexo. Zeca é um cineasta marginal que, sem dinheiro, se mete em um rolo atrás do outro. A linguagem é original e repleta de neologismos engraçados. O enredo que mistura caos, bebedeira, drogas e mulheres. Não por acaso, lembra Bukowski.

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A Filosofia na Alcova, Marquês de Sade

Difícil escolher apenas um livro na obra do Marquês de Sade. Se for para indicar um, nada melhor que este. Imagine uma apologia à liberdade individual, levando o conceito a um ponto tão extremo, onde qualquer crime ou pecado pode ser justificável com base no prazer. Publicado em 1795, esse romance na forma de diálogos faz a maior parte dos livros eróticos de hoje parecer literatura infantil. Em meio a orgias com intuito de educar sexualmente uma jovem, o autor critica os costumes burgueses e a religião. E desdenha de toda e qualquer restrição social.

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História de O, Pauline Reage

Eis um clássico da literatura sadomasoquista. Não conheço uma submissa que não se derreta diante da História de O. Aliás, este livro está para as submissas assim como a “Vênus das peles” para os submissos. E isso porque ao longo da história O – uma fotógrafa de moda parisiense – é dominada, vendada, humilhada, acorrentada, marcada e ainda por cima é treinada para ser uma verdadeira escrava sexual.

E por ultimo o livro do nosso adorável poeta:

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O amor natural, Carlos Drummond de Andrade

O livro de poemas pornográficos, lançado em 1992, choque entre as mocinhas e senhores desavisado, expõe contornos radicais do poeta. Há um desfile pelas páginas, uma galeria recheada de vulvas, línguas, falos, lambidas, pelos… O que mais houvesse para haver na cama entre homens e mulheres, está lá. “Mas como pode? Aquele velhinho que escrevia sobre pedras no caminho…? Tarado!”

“Oh! Sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
Que o nosso avô português?”

Agulha3al – Tentou lembrar um dia em que foi puritano e casto na sua vida, durante a elaboração desse texto, não lembrou nenhum, talvez na sua tenra infância quando olhava para seios e pensava unicamente em almoço. Hoje não mais…

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