Há algum tempo eu sinto que a Biblioteconomia anda meio abandonada por aí. Alguns poucos blogs tratam do assunto, e menos ainda falam sobre a divulgação da área para o grande o público.

Vendo essa carência e o interesse das pessoas quando eu comentava ser bibliotecária, resolvi começar a divulgar a área. No início do ano levei para meu canal de literatura, “É o último, juro!”, uma série de vídeos onde, quinzenalmente, falo sobre Biblioteconomia de uma forma simples. Meu objetivo sempre foi explicar a profissão e sua importância. Eu acredito que uma profissão é desvalorizada quando as pessoas não entendem para o que ela serve. Então resolvi falar sobre porque somos importantes.

Até aí tudo certo, não é? A recepção foi maravilhosa. Várias pessoas comentaram sobre como ajudei a esclarecer o que era Biblioteconomia, que entenderam a profissão, que se entusiasmaram, tudo ótimo. Dentro da área recebi os parabéns, ganhei diversos seguidores que comentam o quanto meus vídeos ajudam em pequenas dúvidas, na vida prática e com alunos de graduação. Bacana, fiquei realmente feliz em ser útil para tanta gente!

Então decidi falar sobre CDD, CDU, organização de acervo e temas mais técnicos, para explicar de um jeito rotineiro e acessível o que fazemos. E então começou o problema.

Comecei a receber muitos pedidos para comentar tópicos de concursos públicos para bibliotecários. Pode parecer legal, mas qual era o objetivo dos meus vídeos mesmo? Divulgação para o grande público.

Não, eu não vou fazer vídeo aula.

Junto desses pedidos vieram também sugestões de temas absurdamente pontuais. Coisas que obviamente não servem ao grande público. Na realidade, lendo as sugestões, é perceptível que o pedido é uma necessidade pessoal que a pessoa não quer ter o trabalho de pesquisar por si só.

E aí entramos de vez no problema. Eu vejo todos os dias em meu canal a prova do egoísmo e da preguiça. Bibliotecários me pedindo temas que não fazem o menor sentido a minha proposta. Pessoas copiando e colando editais nas mensagens do facebook e pedindo para eu gravar vídeos ‘sobre esses temas’. Solicitações de materiais online para estudo de concurso público. Elogios pelo trabalho seguidos de pedidos de vídeo aula. E por aí vai.

E então podemos concluir o que? Boa parte das pessoas não está nem aí para divulgação. A comunidade bibliotecária brasileira não se importa se estamos trabalhando nossa imagem, se as pessoas sabem o que fazemos, ou para que servimos. A esmagadora maioria quer apenas passar em um concurso. E não quer nem ter que dar duro para isso. As pessoas querem uma vaguinha para o resto da vida, com a ajuda dos outros, para não terem que procurar tudo sozinhos. Querem que alguém indique o caminho das pedras para facilitar o estudo e não perderem tempo na pesquisa.

E sabe o que acho mais cômico?

São todos bibliotecários. Bibliotecários que não querem pesquisar. Bibliotecários que ‘não conseguem achar em lugar nenhum’. Bibliotecários que não formulam nem uma pergunta, apenas colam um edital com os dizeres: ‘por que você não fala sobre isso?’. Bibliotecários que pedem para outros bibliotecários fazerem seu trabalho, porque a preguiça é tão grande, que fica mais fácil perguntar do que colocar no Google.

Com esse desabafo eu encerro meu texto repetindo: não, eu não vou fazer vídeo aula. Eu não vou ajudar no material. Eu não vou comentar os tópicos do concurso x.

Talvez meu canal estivesse com o dobro, até o triplo de inscritos se eu assim fizesse, mas não é meu objetivo. Eu quero mostrar para as pessoas porque minha profissão é importante, porque as bibliotecas são importantes, porque a leitura é importante. Mesmo que apenas eu e alguns poucos ainda estejamos preocupados com isso.

O canal é um projeto que não me traz nenhum retorno financeiro. Eu faço isso sonhando que algum dia todos pensem como eu e meus poucos colegas, e os bibliotecários não precisem se estapear por uma vaguinha de concurso público. Quem sabe um dia, quando todos entenderem nossa importância, as vagas se multipliquem pelo país e exista oferta de emprego com boa remuneração para todos?

Existe vida que não seja a concurseira. Eu quero acreditar.

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