Cinderela provavelmente não era loira e A Bela e a Fera não era exatamente uma história para crianças pequenas. Quando criados, os chamados contos de fadas eram histórias cruas, sem medo da verdade, e serviam como auxílio para manter a população longe de determinados perigos que até então eram incompreensíveis para a população – daí surgiram lendas da velha que come criancinhas numa casa da floresta e bruxas más que atormentavam os povoados. Foi para resgatar a essência destas histórias que o carioca Raphael Draccon criou o mundo de Nova Ether, onde todos os seres fantásticos têm uma história para contar.

Dragões de Éter é uma saga que até o momento tem três livros publicados e envolve todo tipo de influência que qualquer jovem nascido após os anos de 1980 poderá facilmente reconhecer: contos de fadas e personagens fantásticos (como João e Maria e Chapeuzinho Vermelho), elementos da cultura pop representadas através da música (Hanson, Cobain, Axel etc.), desenhos animados (Caverna do Dragão, Cavalo de Fogo), jogos e videogames de RPG (Final Fantasy) e uma dose de experiência pessoal. Qualquer leitor nessa faixa etária com certeza terá uma diversão a mais em ficar caçando os ídolos do passado escondidos na trama.

Muito antes da retomada hollywoodiana dos contos infantis vistos em Shrek e Enrolados, o jovem autor brasileiro Raphael Draccon lançou o primeiro volume da saga, intitulado “Caçadores de Bruxas”, desconstruindo a imagem disneyística que temos dessas personagens. Assim, tornando-as mais humanas, o leitor consegue facilmente se identificar com a protagonista Maria, uma moça insegura e que luta por sua família, João, seu irmão, um jovem que quer se tornar forte para defender seus ideais mas que ainda não tem idade suficiente e, por isso, espelha-se no grande ídolo de Nova Ether: Axel, um exímio lutador que além de galante e destro, ainda é filho do rei.  Enquanto isso, temos o Capitão Gancho como um velho decrépito e babão, os sete anões como sujeitos muito mais interessantes do que sujeitinhos de bochechas rosadas que se preocupam apenas em levar lenha para casa e muitos outros.

Raphael Draccon chamou seu mundo fantástico de Nova Ether; para entender o porquê dos dragões, é preciso ler o segundo volume da série, “Corações de Neve”, em que surgem novas personagens, como Branca de Neve, a quem o título se refere, enquanto outras evoluem, como o próprio João. Antes apenas um expectador, neste segundo volume o jovem ganha especial atenção na passagem da infância para a adolescência e como acontecimentos trágicos podem forçar uma criança a abandonar de vez sua inocência e entender, na marra, que, mesmo em um conto de fadas, os dias não são regidos por passarinhos cantantes.

Em “Corações de Neve”, boa parte da trama narra o torneio de boxe, o esporte mais querido e adorado pelos moradores de Nova Ether e que tem como seu principal representante Axel, o herdeiro. Os fãs de luta vão se deliciar com a minúcia do autor em descrever os golpes antes, durante e depois de serem desferidos. Uma verdadeira aula.

Mais do que literatura de entretenimento, a saga de Dragões de Éter é uma boa ferramenta para que professores e profissionais do livro alcancem o coração dos jovens leitores, principalmente meninos, de modo a auxiliá-los a entender todos os conflitos que acometem seus corações e encararem com coragem os desafios que a vida nos impõe, sem se importar se estamos prontos para encará-los ou não. A leitura dos três volumes pode ser feita de maneira voraz, seguindo um livro após o outro, porém, para melhor absorção de tudo que está nas entrelinhas da trama, o melhor é ler os episódios com calma e senti-los individualmente. Ainda assim, aos que preferem, a trilogia também funciona como uma ótima diversão para este fim do ano, principalmente se você é daqueles que ficam o dia do Natal inteirinho esperando dar meia-noite, sonhando com um ser encantado que vai lhe trazer muitos presentes.

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