Todo mundo certamente já ouviu aquela famosa frase, de um igualmente famoso filósofo alemão, qual seja: “penso, logo existo!”. Como gosto de brincar com as palavras, ouso fazer uma brincadeira com a frase acima colocada: leio, logo existo! O texto que se segue é um convite ao maravilhoso mundo da leitura, que eu descobri já adulto, mas que agora também não abandono mais.

Sempre fui pouco afeito a leitura no tempo colegial. Ler era algo chato, maçante, uma obrigação que se assemelhava ao castigo. Oriundo de escola pública, desde o cerne da minha vida escolar, até a universidade – ambas públicas -, não tive muito interesse pela leitura, e acredito que por falta de incentivo, este quadro – desinteresse – tenha ganhado proporções drásticas e quase irremediáveis. Infelizmente, isso acontece aos montes no sistema educacional brasileiro, e no dia a dia das famílias, que preferiram colocar a televisão no centro da dinâmica familiar, ao invés do livro.

Meu contato com os livros se deu de maneira mais estreita na universidade, mais especificamente depois do terceiro período do meu primeiro bacharelado, que foi em Biblioteconomia. Achava estranho e nada exemplar um futuro bibliotecário não ter uma vivência de leitura considerável – pelo menos. Claro que de forma alguma entendo que a profissão, seja ela qual for, levará a pessoa a ter uma vida de leitura a contento. Antes penso que o prazer pela leitura fará de um(a) tímido(a) alfabetizado(a), um(a) leitor(a) voraz! Certamente que há profissões que exigem leitura de seus profissionais, mas se essa leitura for encarada como obrigatória apenas, tais profissionais jamais saberão o quão benéfico é uma leitura por prazer.

A partir dos meus primeiros contatos com os livros, fui descobrindo coisas que antes eram desconhecidas por mim. A própria forma de ler um texto, atentando-se aos sinais gráficos, por exemplo, foi fazendo sentido; consequentemente, os textos foram sendo melhor assimilados por mim, dando a leitura de um livro significados completamente novos, pois eu passava a entender e guardar as histórias e algumas frases marcantes, além de fazer conexões com outros textos, períodos e acontecimentos.

A leitura tornou-se um prazeroso hábito que tenho até hoje e porta de entrada para novos voos que me lancei. Além de bibliotecário que sou – e que me dá muito orgulho -, sou poeta, e ando escrevendo algumas histórias, que espero em breve poder publicá-las. Certamente eu não teria vontade de escrever, se não fosse uma leitora.

O livro me acompanha em muitos momentos da vida. Sempre tenho comigo um livro entre as coisas que levo para a rua. Certa vez eu aprendi com uma amiga, que o tempo que temos livre não é nosso, mas sim da leitura! Coloquei essa máxima como bandeira em minha vida e sigo à risca essa verdade. Se estou numa fila de banco, de loja, ou até mesmo do restaurante universitário e percebo que vai se alongar um período significativo, saco meu livro da bolsa, e começo a ler ali mesmo. Já recebi várias olhadas de admiração e espanto, por estar lendo um livro no ônibus ou numa dessas filas por mim já mencionadas. Toda oportunidade que eu tenho de ler, não a dispenso.

Dentre alguns livros que li e me marcaram – farei uma lista sugestiva ao final -, um em especial tem uma caríssima atenção de minha parte. Trata-se do livro A leitura e seus lugares, do professor de História da Universidade de São Paulo, Júlio Pimentel Pinto. Dentre as muitas coisas boas que ele apresenta nas 183 páginas do livro, um trecho me fez refletir durante a leitura – e ainda me faz: “Que futuros leitores discordem e, melhor ainda, façam outras. Contem uma história a mais, acrescentem outra versão de Proust, de Camilleri, de Bioy Casares, de Borges, dos demais latino-americanos ou das demais questões aqui abordadas. Eis um convite formidável para nós leitores: façamos nossa história, da nossa própria imaginação, ou ressignificando outras já existentes”.

Eu poderia citar vários outros trechos formidáveis que encontrei neste livro, mas ele enverada por outras questões que não acho necessário abordar neste texto. Todavia, todas muito pertinentes, algo que me fez amar profundamente este livro. Uma lição que pude tirar do A leitura e seus lugares, é que o leitor precisa ousar, sair da zona de conforto, descobrir outras sensações, emoções…

Tudo isso, diz o autor, poderá ser feito com leituras sólidas, que apontem para questionamentos que estejam na mira da dinâmica social, que sejam críticos e que apontam soluções. Sei que alguns leitores não gostam de longas citações diretas, mas tenho que transcrever fielmente um trecho desse livro que estou apresentando-os, para perceberem a riqueza que é esta obra.

“É com essa presunção que o livro se apresenta, a de convidar a boas leituras num tempo em que pouco se lê e, inúmeras vezes, se lê mal ou se leem coisas ruins. O leitor de livros baldios acostuma-se a eles e dificilmente arrisca. O livro raso, de leitura esquemática e simplista, não é porta de entrada para Proust ou Cervantes. É sua negação, é o pretexto da recusa, é o vício. Porque a leitura implica reconhecimento do papel e do exercício críticos que ela exerce; obriga, por exemplo, pensar em uma questão insistente na tradição cultural do Ocidente: a das permanências e das mudanças, do novo e do tradicional. E isso a literatura apressada, marcada pela diluição, e não pelo adensamento do debate ou pela valorização das palavras, não deixa acontecer.”

A leitura me fez tomar ainda mais posição nas coisas que julgo certas. Refinou minha crítica, que antes era colérica, “sangue nos olhos”, mas que agora tornou-se atenta, visando evitar equívocos e, por consequência, erros. A leitura me conduz aos mares distantes ou os que estão ao alcance dos meus olhos pela janela do meu quarto; mostrou-me outros mundos por alguém imaginado e outros já habitados desde os primeiros tempos; me fez ver que a desigualdade social é real e cruel, deixando de lado milhares de pessoas, que infelizmente não sabem ler; trouxe a mim, tempos que não vivi, além de lágrimas e sorrisos espontâneos. A leitura é a minha bem cara companhia, nas filas, em meu quarto, sentado nos bancos da praia, no avião, no ônibus, no trem, no metrô. Ler tornou-se um hábito por mim defendido e propagado.

Trago a você, aproveitando que escrevi sobre leitura, e seus inúmeros benefícios operados em mim, uma lista com dez títulos de livros que me marcaram profundamente. Trago dez, não que houveram apenas dez livros mais marcantes em minha vida, mas para fazer uma seleção mínima dos muitos livros que já li. Vamos a ela:

ZUSAK, Markus. A menina que roubava livros. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008.

HOSSEINI, Khaled. O caçador de pipas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

MENEZES, Angela Dutra de. O avesso do retrato. Rio de Janeiro: Record, 1999.

BESSON, Philippe. Na ausência dos homens. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

GUIMARÃES, Bernardo. O seminarista. São Paulo: Editora Ática, 1998.

AMADO, Jorge. Jubiabá. São Paulo: Círculo do Livro, 1999.

PINTO, Júlio Pimentel. A leitura e seus lugares. São Paulo: Estação Liberdade, 2004.

TAVARES, Flávio. O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas do poder. Rio de Janeiro: Record, 2004.

AZEVEDO, Aluísio. O mulato. São Paulo: Martin Claret, 2005.

VENTURA, Zuenir. 1968, o ano que não terminou: a aventura de uma geração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

A ordem em que distribuí as referências dos livros, não quer dizer necessariamente as minhas preferências, até por que, depois da lista pronta, percebi que ficaram de fora da mesma, livros que gosto até mais do que alguns que entraram nela. Porém, esta lista é meramente ilustrativa, trata-se de um guia –  por assim dizer -, de leituras que recomendo e muito. Minha intenção neste texto, era trazer a você caro(a) leitor(a), um breve relato de como a leitura tem feito de mim, uma pessoa com outras visões de mundo, dando sentido a muitas coisas que antes era insondáveis pra mim. O que tenho a lhe desejar é: tenha uma boa leitura!

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