O período eleitoral deveria ser um momento de reflexão consciente, análise e pesquisa, busca por resultados efetivos e, ao mesmo tempo, situação capaz de despertar o nosso lado humano, o entendimento das emoções, o acolhimento das diferentes vozes e opinões, o fomento de diálogos necessários. Entretanto, a conjugação do verbo “dever” adotada neste trecho já explica o que anda acontecendo no Brasil nesses últimos meses.

Andando pelas ruas da cidade – coloque aqui o nome de qualquer cidade brasileira -, é possível sentir a tensão, o mal-estar generalizado, a disputa irracional, do tipo que não tem embasamento, justificativa e muito menos empatia.  Não há mais “nós”e sim “nós e eles”. Agressões verbais, violências físicas e até mesmo assassinatos estão acontecendo no país por conta de disputas partidárias (que trazem na bagagem muito mais do que isso, todos nós sabemos).

Para saber mais sobre esses episódios vergonhosos, coloque no Google (ou qualquer outro buscador) termos como “eleitores” ou “apoiadores”, insira o nome do candidato ou partido que você deseja pesquisar e, em seguida, digite verbos como “atacam”, “agridem” e “espancam”. Se quiser resultados ainda mais dolorosos e revoltantes, insira o verbo “matam”. Aperte a tecla “enter” e leia.

A sensação que se tem é de que estamos na época do fatídico e inexistente “Dia do Expurgo”, onde todo tipo de violência é permitida com a anuência política e social. Um episódio da série de animação adulta Rick and Morty retrata, fazendo uso da sátira e do absurdo, como seria uma catástrofe desse tipo.

O vulcão adormecido no interior de grupos oriundos dos mais diversos setores sociais entendeu ter “licença” para entrar em erupção, permitindo que transbordassem os reais sentimentos trancafiados e camuflados a sete chaves durante os últimos treze anos. Ao aderirem à causa de alguém que se julga portador direto do “Destino Manifesto Brasileiro”, os grupos acreditam, a todo custo, nas promessas e projetos edificados sob uma visão diferente da realidade, passíveis de serem desmontados com um leve sopro de entendimento.

Por que a necessidade de nutrir uma crença inabalável em alguém que tem apenas palavras para oferecer? Talvez somente agora, em pleno século XXI, o Brasil esteja sentindo o desejo ardente de experimentar a Idade Média, finalizada na Europa no século XV. Desejo que vem com um certo atraso, é verdade, mas como dizem os antigos: “Antes tarde do que nunca”.

O fato observável a olho nu é que o nome comumente evocado nesses momentos de cólera coletiva não chegou aonde chegou sozinho. Pelo contrário: ele foi colocado exatamente onde está. Algumas perguntas necessárias a se fazer nesse momento poderiam ser:   quem tem interesse no resultado do pleito eleitoral brasileiro? Qual é a conjuntura – política e social – que está sendo idealizada e projetada (e, acredite, com anos de antecedência)? Quais são os objetivos a serem atingidos e quem quer “bater as metas”?

A vitória nas urnas dentro de um processo democrático revela quem o candidato vencedor está representando, ou seja, que tipo de eleitor sua imagem reflete. Indo mais a fundo, é possível traçar um perfil geral do tipo de ser humano que o candidato vitorioso representa, descortinando os seus anseios e revelando o que esse indivíduo – que, na verdade, é a personificação da maior parte do país –  pensa, reflete e deseja para a sociedade,  para a política e, claro, para os outros que estão ao seu redor.

O resultado das eleições é um retrato majoritário do povo. É como se fossem tirar uma foto para representar o Brasil mundo afora e, nesse retrato, apenas são enquadrados os “vitoriosos”, os “donos da vez”. Todo o resto que existe, mas não aparece na foto oficial, fica sumariamente esquecido. A História, teórica e prática, faz exatamente isso. Só há odes e enredos para os vencedores. O pensamento predominante ganha licença para ser semeado. Um indivíduo só ganha poder se outros o concedem.

Trata-se de uma equação lógica fácil de ser resolvida. De forma individualizada, fica assim: os candidatos que você escolhe, de forma livre, secreta e consciente, para representá-lo nos poderes Legislativo e Executivo do país são, na verdade, o seu reflexo no espelho. Quando você escolhe um nome e rosto político, está escolhendo alguém para falar por você, compartilhar as ideias, posturas e pensamentos que você concorda. Ou seja…

O próximo presidente do Brasil, assim como a composição legilastiva já escolhida na votação do dia 7 de outubro de 2018, é fruto da escolha majoritária do povo, diretamente responsável pelos rumos do país.

Seja qual for a sua escolha política, lembre-se disso: você também carrega o Brasil nas costas. Ou o fardo fica mais leve ou vira uma Rocha Zuma. Depois, não adianta dar uma de hiena Hardy e ficar pelos cantos das redes sociais – o lugar preferido dos brasileiros para desaguar suas mágoas – dizendo: “Oh, céus! Oh, vida! Oh, azar! Eu sei que não vai dar certo.”.

Seu voto diz muito mais sobre você do que páginas e páginas de uma redação pessoal. Escolha qual é o reflexo que você quer ver quando olhar para o espelho.

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