Não é de hoje que muitas reclamações e insatisfações são feitas em relação aos orgãos de representatividade no universo de Biblioteconomia. O preço das anuidades são sempre questionadas pelos profissionais, mas devido a falta de uma posição mais politizada por parte dos bibliotecários esses questionamentos ficam perdidos pelos cantos dos corredores ou então esquecidos na caixa de entrada dos e-mails e nos perfis das redes sociais.

A Biblioteconomia vem se desenvolvendo como ciência, mas por outro lado, não se desenvolve como classe, não se enxerga como coletivo e prefere ficar, em alguns casos, alheia as discussões políticas que norteiam a profissão.

Tendo essas dificuldades em vista, o bibliotecário Rodrigo Gonçalves da Rocha, formado pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), criou um grupo de discussão via e-mail chamado BIBLIO+. De acordo com Rodrigo Rocha, o objetivo desse grupo é debater as carências e descontentamentos na área de Biblioteconomia, elencando soluções viáveis e pertinentes.

Cabe ressaltar, que o grupo está aberto a participação de qualquer profissional e estudante da área de Biblioteconomia. Caso tenha interesse em participar de forma ativa no grupo e nas discussões envie um e-mail para: guiguxow@gmail.com e solicite a sua adesão.

Para saber um pouco mais sobre o que motivou o bibliotecário Rodrigo Rocha a criar tal iniciativa, confira a entrevista que concedeu a Revista Biblioo por e-mail.

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Rodolfo Targino: Como surgiu a ideia da criação desse movimento?

Rodrigo Rocha: A ideia do movimento surgiu do fato de, anualmente, perceber que meus colegas de profissão só lembravam de reclamar em épocas de cobrança/pagamento da anuidade. Esse comportamento começou a me incomodar quando notei que utilizavam os canais errados para falar coisas erradas, mas que quando eram convocados a pensar e utilizar dos meios corretos para cobrar coisas corretas, eles se calavam. Todo ano temos reclamações de valores da anuidade e o CRB é execrado mas, colegas, a anuidade é determinada pelo CFB. O CRB é apenas o credor. Esses e outros pontos começaram a instigar em mim – e não é de hoje – o projeto de um canal em que a comunicação flua (não apenas quando é interessante) e que as perguntas sejam respondidas. Falo que não é de hoje pois, quem lembra, tanto no ano de 2011 (quando quase respondi um processo, injusto por sinal) quanto em 2012 (pelo mesmo motivo desse ano) tentei levantar a bandeira do movimento, entretanto sem apoio. Dessa vez estou tendo pessoas que acreditam na ideia.

R. T.: O que vocês esperavam alcançar?

R. R.: É muito cedo pra dizer, estamos no começo. Recém formalizamos o grupo de discussão. Entretanto, acho que uma coisa é consenso: queremos respostas. E que elas venham com embasamento. A premissa do: “Não acontece porque não há ajuda/Não há ajuda porque não acontece” não cola mais. Ficou provado – e tivemos um caso agora, que envolve o editor dessa Revista – que o Conselho pode agir rápido e incisivamente quando tem interesse. Particularmente, eu espero alcançar um diálogo. Quero poder demonstrar minhas propostas e comprovar a viabilidade delas. Se vier uma negativa, quero ouvir os argumentos, os motivos que levaram até aquele não. Quero pelo menos mostrar aos colegas que eu tentei, mesmo sem apoio massivo. Claro que temos propostas reais: uma delas é a equiparação da cobrança de anuidade de acordo com os vencimentos. Oras, é justo um Bibliotecário em Prefeitura Municipal, que ganha seus R$ 1.200,00 (quando muito) pagar R$ 300,00 de anuidade, o mesmo que paga um bibliotecário do senado, que segundo os últimos editais, ganha aproximadamente R$ 18.000?

R. T.: Quem são as pessoas envolvidas?

R. R.: Como disse, é tudo muito recente. Temos seis bibliotecários até agora. Já me incluindo. No início pedi um representante de cada região do CRB, para viabilizar a comunicação com todos os Conselhos Regionais (sim, é necessário. Já recebi mensagem de um conselho dizendo que não ia me dar informações porque eu não era daquela região). Entretanto, nunca foi minha intenção excluir qualquer tipo de pessoa envolvida com a Biblioteconomia. Nós precisamos de pessoas questionadoras, com disposição. Não de diplomas.

R. T.: Qual a avaliação você faz da Biblioteconomia hoje?

R. R.: A minha avaliação é um tanto quanto inerente ao que tentam passar: a Biblioteconomia hoje avança como Ciência, mas não se desenvolve como área. Não sei se me faço claro, mas minha visão é de que, de maneira geral, os bibliotecários de hoje tem mais necessidade de se firmar aos olhos dos outros do que aos nossos próprios. Temos uma gana por firmar que nossa profissão deve ser reconhecida, que a valorização deve ocorrer, que investimentos devem existir… Mas sempre quando o assunto é relacionado aos outros. Quando falamos de algo que tem impacto em nós mesmos, nos calamos. Pagamos o boleto (quando dá) e esperamos mais um ano para chorar pelo próximo boleto. Enquanto Ciência, a Biblioteconomia hoje está “show de bola”. Enquanto Área, na minha visão, ela deve deixar de ser fisiológica: as coisas não são porque são, as coisas são porque nós fazemos ser.

 

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