“Prometo tudo fazer para preservar o cunho liberal e humanista da profissão de bibliotecário, fundamentado na liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa humana”.

O trecho acima, que integra o juramento dos bibliotecários, revela acima de tudo que devemos trabalhar em prol de pessoas. Isso mesmo, pessoas!

Além de gerenciar a equipe da biblioteca, organizar e disseminar o acervo, esse profissional tem uma responsabilidade ainda maior, que é a de promover o acesso à informação como direito humano. E, para isso, suas atribuições devem incluir a elaboração de estratégias sobre como manter e atrair novos usuários para a biblioteca pública, dando acesso a todo e qualquer tipo de informação e cultura.  Atrelado a isso, o bibliotecário deve contribuir para que aquele espaço seja pulsante e literalmente visto como “público”, espaço destinado para todos.

Reforço que o serviço técnico não é menos importante. O que trago aqui é uma reflexão: se todo esse trabalho não for pensado para as pessoas e com as pessoas, deixa de fazer sentido. De que vale uma biblioteca sem usuários?

A biblioteca pública vai além de um local que guarda livros. A biblioteca pública é o centro de uma comunidade, e seu papel é atender as demandas e as necessidades dessa população.

Iniciativas em curso

Reforçar esse papel é um dos grandes desafios do programa Conecta Biblioteca, que tenho acompanhado de perto como colaboradora da ONG Recode. Presente em 92 municípios brasileiros, 24 estados e Distrito Federal, o programa incentiva a transformação social por meio de bibliotecas públicas. Seus principais objetivos são: fortalecer as habilidades dos profissionais de bibliotecas, aumentar o número de usuários e garantir a sustentabilidade de suas ações.

Um dos eixos formativos do programa é a pesquisa da comunidade. A pesquisa da comunidade é uma metodologia para identificar, mapear, envolver e desenvolver recursos locais em torno de problemas específicos. Assim, ao invés da biblioteca pensar sozinha em sua programação, a comunidade é consultada e participa de todo o processo para definir o que espera encontrar naquele equipamento.

Um dos exemplos bem-sucedidos dessa escuta à comunidade é a experiência em curso no município de Canarana – MT. Com aproximadamente 20 mil habitantes, a cidade possui apenas uma biblioteca pública municipal, chamada Biblioteca Pública Castro Alves.

Iniciativa reuniu grupo para discutir questões relacionadas a biblioteca pública local. Foto: Divulgação / ONG Recode

Após ingressar no Conecta Biblioteca através de uma convocatória nacional, a biblioteca aceitou o desafio de pensar a programação junto com a comunidade e seus jovens. Recentemente, o espaço promoveu uma reunião com 10 jovens para responder à seguinte pergunta:  além de livros, o que você quer encontrar na biblioteca?

Através de uma matriz, o grupo desenhou possíveis locais e parcerias para pensar em uma programação que contemple toda a comunidade. Marcaram presença membros do grêmio estudantil da cidade, líderes religiosos, representantes do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e a coordenadora do Sistema Estadual de bibliotecas do Mato Grosso, Waldineia Almeida.

Qual foi o resultado dessa reunião?

Foi estabelecido ali um grupo dentro da cidade chamado Conecta Canarana, que será responsável em pesquisar a comunidade e obter insumos para a programação da biblioteca pública. Toda a programação será pensada pela comunidade e para a comunidade.

Grupo Conecta Canarana. Foto: Divulgação / ONG Recode

Isso só reforça a ideia de que a biblioteca precisa ser pensada por aqueles que vivem em torno dela. A biblioteca tem de ser a sala de estar da comunidade, onde todos se sintam contemplados através do que ela oferece.

Acredito que a participação popular em todos os processos é válida e faz com que nos sintamos cada vez mais fortes para lutarmos pelos nossos ideais.

Sendo assim, pensemos juntos e sonhemos juntos. Só assim podemos tornar efetivo nosso compromisso como bibliotecários e como cidadãos em torno da garantia dos direitos.

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