A minha consciência não ter cor, mas a minha epiderme é negra!

Estranho eu sempre fui, cabelo um tanto ruim,

Mas não sou quem digo isso, assim eu sempre fui visto,

Morando em vielas da periferia eu cresci,

Jogando bola descalço e arrebentando o tampão dedo, sobrevivi.

 

A minha consciência não ter cor, mas a minha epiderme é negra!

Correndo atrás de emprego, tentando provar inocência sem culpa,

Qual é o preto que não tem este dilema? Qual a preta que me escapa deste poema?

 

A minha consciência não ter cor, mas a minha epiderme é negra!

Engraçado como o mundo dá suas voltas,

Ontem quem dava as costas pra mim, hoje quer debater comigo sobre cotas,

Só que eu não perco tempo debatendo com quem não pensa,

Se as costas incomodam tanto assim,

Veja quem organiza a sua dispensa…

Lidar com pretos não tem problema, doutor, desde que limpem o chão que você pisa,

Agora sentar nas mesmas cadeiras dá faculdade, por favor,

Pretos aqui causam ojeriza.

 

A aminha consciência não tem cor,

Mas ela tem volume,

O que falta na pele que se amorenou,

Sobra na minha, o negrume!

E preste atenção nestes versos,

Não quero e nem fujo ao protesto,

Dispenso-te de querer clarear a minha pele,

Dando a ela tons suaves de tinta,

A melanina que me foi concedida é das boas,

Tenho a pele lustrosa e retinta!

 

A minha consciência…

A minha consciência…

A minha consciência não tem cor, pois consciência é algo abstrato,

Falo a língua nagô, e trago no peito o amargo,

Amargo de ter uma cor, e ser por causa dela apontado,

Mas o orgulho que em mim se instalou, suplantou o amargo por muito superado,

E por mais que me queiram apagar este amor,

Um recado vos deixo sem rancor:

A minha consciência não tem cor, mas a minha epiderme é negra com louvor!

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