Nos últimos dias milhares de pessoas passaram pela cidade do Rio de Janeiro para participar da 31º edição dos Jogos Olímpicos da era moderna[1]. Depois de anos de luta, o Brasil conseguiu o direito de sediar as Olímpiadas de 2016 e, como sabemos, a cidade do Rio foi escolhida para receber este grandioso evento de nível mundial. Bom, este texto não pretende ter as Olímpiadas como assunto principal, mas a tem como fio condutor, pois o verdadeiro assunto deste texto, acontece nesta edição dos jogos.

Como país sede, o Brasil tem o direito de ter representantes em todas as modalidades que fazem parte do “catálogo” de esportes que ocorrem em uma Olímpiada. Já se sabe que nos próximos jogos que será em Tóquio, no Japão, daqui a quatro anos, outas modalidades (skate, surf, dentre outros) farão parte desse “catálogo” de esportes olímpicos. Por enquanto são 39 as modalidade, e penso que uma significativa parcela da população brasileira nunca ouviu e/ou nunca teve a oportunidade de ver a metade destes esportes em nosso país.

Aqui começa o meu questionamento a eterna opção “do Brasil” pelo futebol. Se estamos sediando o maior evento esportivo do mundo; se (segundo estimativas) cerda de 3 bilhões de pessoas estariam de olho no Brasil nos 17 dias dos jogos (principalmente nas cerimônias de abertura e de encerramento), por que não dá uma real atenção as 39 modalidades esportivas em que o país participará dos jogos Rio 2016?!

A expressão “Pátria de chuteiras” foi uma expressão cunhada pelo escritor e jornalista Nelson Rodrigues. O regime militar surfou na onda e na força desta expressão e, para a Copa do mundo de 1970, fez uma campanha em que buscava unir o Brasil em torno da seleção de futebol. Parece-me que a campanha dos militares surtiu mais efeito do que o esperado, pois até hoje o futebol é o principal esporte na opinião dos brasileiros e o mais assistido e divulgado pelas emissoras de televisão, e outras mídias. Até nos programas ditos de esportes dos canais abertos e fechados de televisão, o futebol tem mais espaço que outras modalidades esportivas.

Não é surpresa para nenhum(a) brasileiro(a) que o futebol é o esporte mais valorizado, mais divulgado, com maiores investimentos, tanto em pessoal, quanto em locais para as partidas. Quem não se lembra dos estádios reformados e construídos para a última edição da copa do mundo que ocorreu aqui em nosso país?! Muitos estádios foram construídos em cidades que nem time para jogar tem. Críticas à parte, o futebol tem lá suas vantagens aqui no Brasil; vantagens essas que a maioria das outras modalidades esportivas não têm, e sabe lá Deus se um dia terão.

Desde 1987 a seleção brasileira de futebol já tinha um local próprio, organizado, de excelência para concentração e treinamentos para as competições que a mesma iria competir. De lá pra cá foram sete edições dos jogos olímpicos (Seul 1988, Barcelona 1992, Atlanta 1996, Sydney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012), e nenhuma medalha de ouro havia sido conquistada pela nossa seleção de futebol até agoa. Em contra partida, o vôlei do Brasil vem conquistando títulos olímpicos desde 1992, e esta modalidade esportiva só pôde contar com um centro de treinamento de excelência em 2003.

Citei o exemplo do vôlei, por que dentre os esportes brasileiros foi o que teve mais destaques e divulgações nos últimos anos; também, depois dos títulos nos campeonatos internacionais, e de três medalhas de ouro em olímpiadas (1992 homens; 2008 e 2012 para as mulheres), o vôlei conseguiu o seu lugar junto a torcida brasileira. Todavia, outras modalidades esportivas não têm visibilidade por aqui, e não é por acaso que o país não consegue títulos internacionais em diversas modalidades.

Não há por parte do governo federal um incentivo para a prática esportiva; não há divulgação por meio dos veículos de comunicação das outras formas de praticar esportes. Das 39 modalidades esportivas olímpicas, acredito que alguns(mas) poucos(as) brasileiros(as) já ouviram falar da matade. Como mencionei no início do texto, já que o Brasil tem vaga garantida em todas as modalidades, por que não dar um incentivo maior as modalidades com pouca expressividade por aqui?! Modalidades como: canoagem slalom, ciclismo BMX, esgrima, hóquei sobre grama, luta olímpica, pentatlo moderno, rugby de 7, tiro com arco, ginástica de trampolim, entre outras.

Nem o futebol feminino tem o reconhecimento que o futebol masculino têm aqui no Brasil. Enquanto os rapazes estavam no conforto da Granja Comary em Teresópolis/RJ, as meninas do futebol estavam hospedadas em um hotel no interior de São Paulo. Muitos se perguntam por que o Brasil nunca fica entre os cinco primeiros no quadro de medalhas das Olimpíadas. Ora, precisamos de tempo para pensar na resposta?! Os Estados Unidos da América investe no esporte e levam a sério a prática esportiva, desde os primeiros anos de vida de seus cidadãos. Os Estados Unidos da América foram os vencedores no quadro de medalhas em 16 edições dos jogos olímpicos. Bom, como diz um antigo ditado popular: “pelas árvores, conhece-se os frutos!”

Por aqui, nossa primeira medalha veio do tiro esportivo; o atleta Felipe Wu conquistou a medalha de prata. A segunda medalha do Brasil, e primeira de ouro, veio do Judô. Rafaela Silva, uma moradora da Cidade de Deus, uma comunidade do Rio de Janeiro, venceu os prognósticos dos pessimistas, e subiu no lugar mais alto do pódio olímpico.

Longe de querer que a seleção brasileira de futebol masculino seja eliminada nas competições que participa, eu queria ver outras modalidades esportivas sendo valorizada, com maior divulgação e mais participação popular. Como seria bom termos campeões, e campeãs de rugby, tiro com arco, pentatlo moderno, dentre outras modalidades, recebendo o carinho da população, e os incentivos por parte do governo, através do Ministério dos Esportes. Seria pedir demais esse incentivo?! Vamos ver no Japão daqui a quatros anos como o time Brasil estará, pois eu não tenho dúvida de que mesmo sem os holofotes, grana, e estrutura que dão para o futebol masculino, os atletas brasileiros farão bonito, cada qual em sua modalidade.

[1] Texto escrito no dia 8 de Agosto de 2016.

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