O estádio jornalista Mário Filho, popularmente conhecido como Maracanã, é o palco do futebol mundial. No gramado do “Maraca” tivemos grandes glórias e também algumas decepções do futebol brasileiro. As tardes de domingo eram marcadas por grandes jogos, clássicos disputados e empolgantes, com verdadeiros craques que esbanjavam talento através de golaços e jogadas maravilhosas.

Era emocionante ir ao Maracanã lotado. As figuras dos “geraldinos” e “arquibaldos” (imortalizados na voz de Apolinho na Rádio Tupy do Rio) – torcedores que ocupavam os setores da geral e arquibancada, com suas fantasias esquisitas e engraçadas – davam um brilho único aos jogos e refletia a cultura popular brasileira em amar o futebol antes de todas as coisas.

Com as recentes reformas para adequar o Mário Filho aos padrões da Fifa, esse encanto está sendo barrado, a geral foi extinta e as arquibancadas foram reduzidas para ceder espaço as cadeiras numeradas e aos camarotes de luxo.

O Maracanã para quem?

 Na reabertura do Maracanã ficou claro que a partir de agora o estádio vai ser destinado a um público mais seletivo. Pelo próprio preço dos ingressos para o amistoso entre Brasil e Inglaterra, que eram mais elevados do que os que serão vendidos para a primeira fase e as semifinais da Copa das Confederações, fica evidente que o velho “Maraca” não é mais nosso.

Segundo o jornal o Globo, no amistoso os preços dos ingressos variavam entre R$ 90 a R$ 300. Na Copa das Confederações, estes serão vendidos em quatro etapas: na fase de grupos os preços variam de R$ 57 a R$ 228 e nas semifinais variam de R$ 76 a R$ 266.

Mas se você está achando o preço dos ingressos caro, basta ver os preços dos camarotes. De acordo com o jornal o Extra, para garantir espaço no melhor lugar do Maracanã na final da Copa das Confederações, o interessado no camarote de luxo terá de reembolsar o valor de R$ 9.750 por pessoa.

Caso você queira fazer um pequeno lanche no intervalo das partidas, um simples mate custa R$7,00 e o cachorro-quente sai por R$8,00. Saudades da época dos vendedores ambulantes, que encaravam o tumulto das arquibancadas, para vender mate e biscoito globo por um preço mais em conta e condizente com a realidade do torcedor brasileiro.

O maraca é nosso?

O estádio do Maracanã foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no ano de 2000. Sendo assim, a estrutura original do estádio jamais poderia ser alterada, mas essa determinação ficou apenas no papel. As recentes reformas não respeitaram a lei de tombamento e a demolição completa da marquise de concreto original foi alterada e com o crivo do IPHAN.

Além desse desrespeito, ao redor do estádio as arbitrariedades em nome de reformas que não levam em conta a lógica do público, cada vez mais desrespeitam a Constituição brasileira e o bom senso.

A demolição do complexo esportivo Célio de Barros, do Museu do Índio e da Escola Municipal Friedenreich para a construção de estacionamentos chega a soar como piada. Em nome do desenvolvimento e da modernidade estamos apagando nossa história, rasgando a Constituição e deixando um rombo nos cofres públicos.

Sem a participação popular, o Maracanã jamais será o mesmo, as tardes de domingo serão mais tristes e pelo valor do preço dos ingressos provavelmente não teremos um clássico com casa cheia.

Saudades da época dos ingressos com preços acessíveis, em torno de R$2,00. Era possível assistir a uma partida do setor da geral, bem perto do campo, de pé e compartilhando os gritos vindos das arquibancadas: “O maraca é nosso, há-há hu-hu”.

Com a elitização do estádio, só resta aos “geraldinos” e “arquibaldos” acompanhar os jogos pelo pay per view dos botequins cariocas. Mas agora ao invés de cantar “o maraca é nosso, há-há hu-hu” de pé na geral, estarão entre mesas e cadeiras gritando: “O maraca já foi nosso, agora é do Eike Batista e da iniciativa privada, há-há hu-hu”.

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